O aeroporto e as bagagens que ninguém vê
Entre chegadas e partidas a ansiedade marca presença
Texto e ilustração por Jeciane Chaves
Os largos portões de vidro dividem muito mais do que o interior e o exterior do aeroporto de Imperatriz. Eles são como uma fronteira, que marca o término, mas também o início de novas jornadas. A pista de pouso e decolagem cede espaço para que sorrisos e lágrimas possam repousar junto com as aeronaves. Lágrimas de choro e de alegria, despedidas sinceras e o alívio de reencontrar a pessoa amada, todos os tipos de sentimentos podem ser observados em cada poltrona da sala de espera.
O aeroporto Prefeito Renato Moreira, como conhecemos hoje, começou a ser construído na década de 1970, com conclusão em 25 de maio de 1973. Mas a circulação de transportes aéreos na cidade já ocorria na década de 1930. A primeira pista de pouso era de terra e ficava localizada em uma área que hoje é ocupada por diversos órgãos públicos, como o Hospital Regional, a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o Fórum de Justiça e os colégios Graça Aranha e Dorgival Pinheiro de Sousa.
Hoje com capacidade de receber aeronaves modernas e com melhores condições de infraestrutura, o Aeroporto de Imperatriz é a porta de acesso para as cidades do sudoeste do Maranhão, além de ser a melhor opção para os turistas que desejam conhecer o famoso ponto turístico da Chapada das Mesas, em Carolina (MA). A construção da estrutura atual ocorreu em uma área situada a cinco quilômetros do centro da cidade. O aeroporto recebe aproximadamente 1,2 milhões de passageiros por ano, mas o que os dados não podem contabilizar são as diferentes histórias que passam pelo check-in, dia após dia.
Para além das estatísticas, a manhã da última sexta-feira de abril de 2023 iniciou como qualquer outra, sem muitas expectativas. Mas a cada metro mais perto da entrada do aeroporto, uma certa ansiedade começava a marcar presença nos passageiros que, às 9 da manhã, já aguardavam o seu voo na sala de espera. A cada minuto, uma nova pessoa cruzava os portões, algumas com muitas malas, outras apenas com uma mochila. Mas todas trazendo algo em comum: o sorriso largo no rosto.
A inquietude era evidente na expressão facial de todos que chegavam ao aeroporto. Alguns, sozinhos, se sentavam em frente ao portão de embarque e ficavam esperando, mandando uma última mensagem pelo celular antes de levantar voo. Outros, não tão solitários, logo encontravam um rosto familiar à sua espera. Aí vinham os abraços, os sorrisos, os comentários sobre como foi a estadia na cidade e a especulação a respeito do quanto o voo ainda iria demorar.
O casal que não quis se identificar chegou cedo para esperar o pouso do voo 3250. Estava previsto para 10h45, mas quando o relógio marcou 10h eles já entravam no aeroporto. Chegaram calmos, mas com o passar do tempo ficava evidente a ansiedade que se manifestava na exaltação de ambos. Ele olhava para o telão com as informações do voo, enquanto ela não parava de mexer no celular e, vez ou outra, reclamava do atraso. Alguns minutos antes da chegada do voo, se dirigiram para o portão de desembarque. A moça queria gravar o avião descendo do céu e a sua irmã, que vinha da Espanha, desembarcando: “Quero mandar pro meu outro irmão, pra ele ter certeza de que ela veio!”, brincou.
A impaciência não era um sentimento exclusivo dela. Todos que lutavam por um espaço na grande janela de vidro, com uma vista privilegiada da pista de aterrissagem, compartilhavam da mesma urgência de reencontrar seus filhos, companheiros, amigos. Ela já estava há alguns minutos com o celular na mão, gravando o céu azul, sem nenhum sinal de avião, enquanto seu companheiro mais uma vez reclamava do atraso. Por fim, às 10h47, a aeronave surgiu cortando o céu de Imperatriz. Foram apenas dois minutos de atraso, mas para quem não via a irmã cara a cara há 14 anos, significaram uma eternidade.
O voo que trouxe uma antiga moradora para rever sua família, também transportou novos olhares para a cidade. É o caso de Luciano e Gabriela, dois jovens que desde o momento que desceram do avião não tiraram o sorriso do rosto, expressando a alegria de uma nova experiência a ser vivida. Ambos vieram de Goiânia, capital de Goiás, onde trabalhavam com educação e agora irão desempenhar a mesma função em Imperatriz. Não precisava estar muito perto para sentir a empolgação deles, pois comentavam alegremente sobre como seria a nova rotina. O entusiasmo não cedia espaço nem para o cansaço do voo, de mais de três horas.
Não importava para onde se olhava. Cada canto do aeroporto, agora que o avião tinha pousado, estava tomado pela emoção. Um casal de jovens acariciando o rosto um do outro. Dois irmãos, que há alguns minutos corriam pelo saguão, agora tinham os olhos vidrados em cada pessoa que cruzava o portão, na esperança de encontrarem seu pai antes da mãe, que os segurava pelas mãos. Do lado oposto, outro casal chorava, abraçados e sentados na poltrona, sem conseguirem parar de se olhar nos olhos enquanto trocavam selinhos apaixonados. O pouso foi marcado por reencontros. Entre olhares apaixonados e conversas paralelas, uma voz doce de criança recheada de felicidade cortou todo o barulho da sala e resumiu bem o significado do lugar: “Eu não via a hora da mamãe chegar!”.
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