Cultura afro-indígena acessível em museus
Espaços da Uemasul conservam e divulgam culturas indígenas e negra
Juliana Santana
Centro de Pesquisa em Arqueologia e História Timbira (CPAHT)
Um pilão de madeira (doado pelo povo gavião, de Amarante), a reconstituição das paredes de uma casa de taipa, potes de armazenamento de água e panela de barro. Essa é a visão que os visitantes encontram na recepção do CPAHT. Na entrada já é possível degustar do material que representa parte da cultura popular da região, fazendo conexão do passado e presente e suas diversas formas de influência.
Artefatos líticos, como as primeiras ferramentas lascadas e polidas, vestígios e fragmentos cerâmicos são alguns dos itens do segundo ambiente. Esses objetos passam um pouco da dimensão dos artefatos utilitários dessas populações e conectam a exposição de arqueologia.
Inaugurado em 2015, o CPAHT é um museu aberto ao público desde outubro de 2016, que dispõe de um acervo não só arqueológico, mas também expõe aspectos etnológicos, com materiais de uso cotidiano e ritualístico representativos dos povos indígenas da região.
A visita ao museu possibilita a percepção da história indígena e sua linearidade. Enquanto a arqueologia relembra a história dos que foram extintos, a etnologia aprecia de forma mais analítica os povos remanescentes, como Timbira, Tupi e os Guajajara.
A partir de reivindicações das populações Tupi, o Centro de pesquisa será “rebatizado”, acrescentando mais um “T’’, CPAHTT, em seu nome, para contemplar o povo Tupi. O pedido está em trâmite, em um processo de regularização institucional para ser oficializado.
Oferendas indígenas
A maioria dos itens em exposição são doados pelos próprios povos. Tudo funciona como uma curadoria colaborativa, ou seja, um acervo montado com ajuda dos próprios indígenas. Geralmente a equipe do centro de pesquisa é convidada para celebrações e rituais especiais das aldeias, que marcam suas questões sociais.
Um exemplo é A Festa do Rapaz, realizada pelo povo Tenetehar/Guajajara, que marca a passagem da infância para a vida adulta. Toda a equipe compareceu, vivenciou a manifestação cultural na aldeia, e, ao fim, recebeu doação de alguns objetos. “Não é só pegar o material, existe um processo de documentação e da vivência da própria festa", explica Danielly Morais, arqueóloga, historiadora, coordenadora geral e de patrimônio cultural do CPAHT.
Por ser uma reserva técnica, o Centro de Pesquisa também recebe material das escavações realizadas na região. Os sítios arqueológicos são fontes de informação sobre as ocupações antigas e de ações datadas no período anterior à colonização do interior do Maranhão e da história dos povos indígenas, que vai desde o período pré-colonial até o presente.
Antes com artefatos predominante dos Timbiras, foi com a chegada da chefe de Etnologia, Aline Guajajara, em 2022, que a expansão da exposição foi direcionada também para esse povo. A equipe de pesquisa visitou aldeias e comunidades Guajajara, o que possibilitou a arrecadação de materiais para um novo acervo.
Visitação
O CPAHT tem entrada gratuita e está aberto para visitação de segunda à sexta, em dois turnos. Pela manhã, das 8h às 13h e, no período vespertino, das 14h às 18h. As visitas são guiadas, tendo como principal público alunos do Ensino Básico e Médio, podendo contar com oficinas de cerâmica, suporte oferecido pelo próprio CPAHT. Vinculado à Uemasul, o museu faz parte do projeto de extensão do Núcleo de Estudos Africanos e Indígenas (NEAI) desde 2007.
Museu Afro-Indígena
O Núcleo de Estudos Africanos e Indígenas (NEAI) inaugurou no dia 19 de setembro de 2022, o Museu Afro-Indígena (MAI). Até então a iniciativa utilizava uma sala no CPAHT. Segundo Francivan Almeida, pesquisador do núcleo, a ideia surgiu anos antes, em 2007, no projeto idealizado pela coordenadora e professora do curso de História, Maristane de Sousa.
A sala temporária recebeu até 14 de dezembro de 2022 a exposição “A presença negra no lugar onde vivo: história, memória, religiosidade, ciência, tecnologia, literatura e cultura”, composta por desenhos de temática afro. Produzidos por estudantes da Educação Básica de Imperatriz–MA, os trabalhos foram expostos originalmente para votação popular no XVIII Salimp (Salão do Livro de Imperatriz), em 2022.
O espaço externo à sala de exposição temporária é embelezado pela exposição fixa de Graffit da Área de convivência Joseph Ki – Zerbo, realizada pelos artistas Edermais e MS Graffit, que homenageia um dos principais nomes da história africana. O historiador e sociólogo Joseph Ki –Zerbo, construiu uma trajetória reconhecida internacionalmente por seu ativismo político, intelectual, antirracista e anticolonial, produzindo obras significativas sobre a história do continente africano a partir do século XX.
Visitação
Aberto a toda a comunidade, a prioridade é para os agendamentos, que podem ser feitos pelo link na BIO do Instagram (@neaiuemasul), pelo WhatsApp com algum dos bolsistas, ou presencialmente. O horário de funcionamento é de terça à sexta-feira, das 8h às 12h e 14h às 18h.
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