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A arte da mixagem de emoções no set

Artistas promovem o cenário da música eletrônica em Imperatriz


Cinthya Monteiro

A cena musical eletrônica tem se consolidado cada vez mais na vida noturna da cidade. Com batidas envolventes e mixagens cativantes, nessa reportagem, DJs e produtores maranhenses compartilham suas experiências sobre essa jornada de desafios e paixões.


Da mesa de mixagem à agitada rotina diária como motorista de aplicativo, a vida de Niã Ferreira é uma mescla de sua paixão musical com o ritmo de seu trabalho. Filho do cantor e compositor paraense, Neném Bragança (1960-2015), Niã desenvolveu paixão pela música desde seus primeiros anos. O interesse pela cena eletrônica surgiu logo após um período de repouso em sua casa, levando-o a se encantar com a criação e execução de várias sonoridades, como Tech House, Tech Funk e Minimal House, que são subgêneros presentes no mundo da música eletrônica. A busca pela profissionalização, a conexão e o conhecimento o fizeram ficar mais íntimo do mercado durante os últimos anos.


Para Niã, tocar vai além de estar no comando da festa. Demanda uma preparação interna e externa para proporcionar o melhor para o público. "É preciso investir na tua estética pessoal, porque querendo ou não, tu se torna um produto e se tu não souber vender esse produto que é você, que é o DJ, como você vai conseguir tocar nas festas, como é que você vai conseguir ter um retorno?", frisa. Com o sonho de viver da arte, o imperatrizense de 25 anos busca constantemente superar os obstáculos e as limitações no seu caminho, na busca pelo reconhecimento do seu trabalho.

Desde a infância, Niã cultivou interesse pela música, descobrindo sua paixão no universo da mixagem. Créditos: Arquivo Disconecta


Beatriz Passos, assim como Niã, enfrentou suas próprias dificuldades. Estudante de psicologia e body piercer, a jovem de 25 anos, mais conhecida como Passos, relata seu amor pela música eletrônica que transcende quaisquer possíveis desafios. "Quando eu estou ouvindo música ou fazendo minha pesquisa sonora, fico me imaginando ali com a galera. Estar ali no meio, ordenando a pista, é a maneira como me sinto de estar realmente me desligando, como se fosse uma meditação."


Ela sempre teve uma ligação muito forte com a música, e iniciou a sua imersão na cena eletrônica em 2018. Concentrou os seus esforços em fazer pesquisas e construir conexões com pessoas do ramo, com o objetivo de contribuir ativamente para a cena musical eletrônica na cidade. "Para quem está começando, é importante estar inserido, conhecendo o pessoal, fazendo seu networking, trocando ideias. Porque para quem está na cena é muito importante você fazer parte daquilo," declara Beatriz.


Beatriz destaca-se nas festas locais apresentando sua arte na mesa de mixagem. (foto: Arquivo Disconecta)


Antes de coordenar a mesa de mixagem da festa, Beatriz gosta de fazer uma análise do estilo, local e possível público presente na ocasião. Inspirada pelo Afro House, um subgênero da House Music, a jovem aprecia combinar tanto suas preferências pessoais quanto o interesse do público local em Imperatriz. "Eu sempre gosto de escolher as músicas de acordo com o que eu estou escutando ultimamente e que eu mais gosto. Eu sempre estou pesquisando, garimpando músicas antigas”.


A representatividade das mulheres na música eletrônica ainda é uma preocupação para Beatriz, que reconhece a escassez e a falta de oportunidades para artistas do sexo feminino na cena. "Até hoje nós encontramos dificuldades. Você vê line-ups em festas com seis caras e nenhuma mulher, é meio frustrante." Beatriz reconhece a capacidade da música de transcender preconceitos, assegurando que todos tenham a oportunidade de se conectar com o gênero.


O Maranhão é berço de vários artistas da cena eletrônica. O DJ e produtor Lucas dos Santos, conhecido como Luka Sant, natural de Porto Franco, iniciou sua carreira com o desejo de tocar exclusivamente em eventos de música eletrônica. Entretanto, em sua cidade, o público demonstrava maior afinidade por outros gêneros musicais. Com o tempo, surgiram oportunidades que permitiram a Lucas conhecer pessoas do nicho que tinham o mesmo objetivo, o que eventualmente resultou em oportunidades para atuar profissionalmente.

Em 2016, Lucas começou a demonstrar interesse em produzir música e, aos poucos, aprimorou suas habilidades no campo, utilizando as plataformas on-line para divulgar sua arte e ganhar notoriedade no nicho. "Adquiri meu primeiro computador, que eu mesmo comprei e a controladora [dispositivo usado por DJs, músicos e produtores para mixar faixas musicais]. Quem me ajudou foi minha mãe. Daí comecei a produzir e fui desenvolvendo meus próprios sons, divulgando e lançando no YouTube."


Lucas buscou aprimorar suas habilidades para transmitir experiências e emoções ao público. (foto: Arquivo Private Sessions Festival Edicion)


Entusiasta do Tech House e do Melody Techno, agora com 30 anos, Lucas está dedicado a aprimorar suas performances, buscando surpreender o público com novos elementos e sonoridades. "Ser DJ, para mim, é saber expressar e transmitir a sua verdade. Eu não estou ali apenas para fazer a galera curtir. Estou ali para contar minha história, despertar várias sensações em todo mundo”, declara o DJ.


Sonhos e conexões


Alphano, DJ, produtor e um dos protagonistas na promoção da cena eletrônica na cidade, busca oferecer experiências únicas a cada edição da Disconecta, evento que reúne profissionais e amantes da música eletrônica.


O evento, em si, é um braço da gravadora de mesmo nome, idealizada por Alphano. Um sonho que começou a ser construído em 2007, quando ele iniciou sua jornada na produção musical, porém só tomou forma em 2021, ano em que lançou um álbum chamado Conterrâneos. Em paralelo, realizou um show case de lançamento da gravadora. Após várias recusas de gravadoras maiores, Alphano encontrou uma oportunidade para se destacar na cena eletrônica regional e ajudar outros artistas do ramo a crescerem. "Seria uma oportunidade de trazer visibilidade para os artistas locais. Eu, como sou de Imperatriz e toco há muito tempo, sempre senti dificuldade de tocar minhas próprias músicas aqui na cidade, porque não tinha eventos específicos”, relata o produtor.


Com três edições realizadas em fevereiro, junho e julho de 2023, o evento tem contribuído para o crescimento anual da cena eletrônica em Imperatriz. Chamada de "0800", a última edição marcou um novo capítulo para o Disconecta. Realizado na Beira-Rio e aberto ao público, o elenco de DJs escalado conseguiu levar a essência de suas atividades para aqueles que estavam presentes ou mesmo os que estavam apenas de passagem pelo cartão-postal da cidade.


Foi uma oportunidade não apenas para Luka Sant, que proporcionou um som com influências do samba, mas também para Niã e Passos, também presentes. "Foi uma experiência muito boa, especialmente por se tratar de um evento inclusivo, onde havia pessoas de todas as idades, desde crianças até adolescentes, e também a galera que estava ali para curtir e sempre estar presente nos eventos. Foi muito importante, porque atraiu pessoas de outras comunidades”, declara Beatriz.


Por meio da mixagem, artistas promovem uma experiência contagiante e única na pista de dança. (foto: Arquivo Disconecta)


O Disconecta tem como premissa atrair um público que compreenda a proposta do evento e esteja disposto a ouvir novas músicas. A cada edição, Alphano procura encontrar inspirações e oferecer uma experiência única, que se diferencia da que as pessoas estão acostumadas.


Para as próximas edições, a intenção é manter e atrair um público específico, que participa do evento pela música e sua essência. Niã, que presenciou todas as edições, destaca que o evento representa uma excelente oportunidade e abre portas para os artistas locais. Além disso, promove conexões e colaborações entre artistas, impulsionando o crescimento da cena musical eletrônica na região. "Para mim, a Disconecta tem feito a diferença na cena, porque, mesmo que não tenha uma frequência tão grande, ela sempre traz a ideia de educar o público musicalmente, introduzindo novos sons e ambientes. A Disconecta se concentra muito na experiência”.

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