A sensualidade e o gingado do cacuriá
Conheça a dança popular maranhense pela Companhia Sotaque de Imperatriz
Rainara Ferreira
Dança marcada por coreografias sensuais e canções de duplo sentido, o cacuriá representa uma das mais típicas manifestações maranhenses. Com 28 integrantes, a Companhia Sotaque de Imperatriz é um dos grupos que mantém o seu legado, beneficiado pelo Ponto de Cultura “Me leva que eu vou”, que também oferece oficinas recreativas de outras danças populares regionais.
Cacuriá é presença obrigatória nas festas juninas. (foto: acervo pessoal)
O Sotaque surgiu em 2011, fundado pelo poeta, compositor, folclorista, instrutor de danças maranhenses e ex-vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura do Maranhão, Osório Mendes Neto. Como ele faleceu em fevereiro de 2021 devido às complicações da Covid-19, atualmente a companhia é coordenada pelo professor Adilson Silva Sousa, 36 anos. Ele ajudou Osório na criação da escola e conta que a dança vai além dos movimentos do corpo:
“Os brincantes do cacuriá ficam em dupla, não são passos difíceis, basta ter um molejo especial, muito ombro e movimentos cheios de sensualidade coreografados em uma roda”.
Hoje a dança ganhou espaço com tanta força que está presente nas festas típicas de São João. Gabriel Nascimento, 25 anos, integrante da escola, dança desde 2016. Quando criança passou por vários grupos de dança folclóricas maranhenses, mas o cacuriá entrou em sua vida de uma forma especial. “O pisadinho e o gingado do cacuriá é um contato corporal que estimula grandes benefícios, expressividade e transmissão de sentimentos”, define.
Molejo no corpo e gingado no ombro são as receitas básicas. (foto: acervo pessoal)
As coreografias são organizadas em rodas, aos pares e acompanhadas por instrumentos percussão, como as caixas da festa do Divino Espírito Santo. Cada passo transmite a manifestação da cultura e a música fica a cargo da banda da oficina Sotaque, que introduz ladainhas que falam sobre a natureza, crenças, brincadeiras antigas e desejos da população.
“Ah, meu divino Espírito Santo, divino consolador, consolar minha alma, quando deste mundo for. Ah, meu divino Espírito Santo, pé de prata, bico de ouro, dê licença, dê licença, licença queira me dar, no meio deste salão, eu vim trazer o cacuriá.”
(Música: Divino Cacuriá)
Aziz Bahury, 50 anos, é pedagogo com habilitação técnica e professor de música da Escola Estadual do Tocantins e toca na banda da Companhia Sotaque há 12 anos. Ele vem de uma família de músicos, sempre dominou vários instrumentos e relata que desde pequeno tem um amor inexplicável pela música. Entrou no Sotaque como violonista e atualmente toca banjo.
“Gosto da música de forma geral, é com imensa alegria pegar um instrumento com tanto carinho e tocar para produzir uma música, seja ele um violão, bateria ou um triângulo, e ver as expressões dos brincantes se entregando na dança e nas músicas que a banda toca é muito satisfatório", conta Aziz.
O conjunto de vozes é composto por vários versos respondidos de maneira improvisada. Os integrantes, além de dançar, respondem ao coro da música. Os instrumentos que enriquecem o batucar do traço musical do cacuriá são: tambores, flautas, violão, banjo, entre outros.
As maratonas de ensaios sempre começam meses antes das Festas Juninas. As roupas são tão sensuais quanto a coreografia: blusas curtas, saias rodadas e cheias de fitas. O figurino foi enfeitado pelas mãos de Osório Mendes e por alguns brincantes assim que o grupo foi fundado e, a cada ano, as roupas são emprestadas e devolvidas.
Hagaveny da Silva, de 27 anos, é brincante da oficina desde 2019 e comenta que as roupas são um espetáculo. Ela nem precisa fazer medida em costureiras, pois já encontra os trajes feitos na oficina. "As roupas são saias e blusas de babados caídas no ombro e sapatilha da Moleca. O enfeite da cabeça é uma espécie de boina ou chapéu com fitas de várias cores”, explica.
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