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Arte no DNA: Edney Areia leva cultura pop aos murais

Muralista decora paredes de Imperatriz com desenhos de ícones populares


Ellen Monteiro

Muralista ganhou repercussão ao pintar personagens da cultura pop em Imperatriz-MA. (Foto: Reprodução / Instagram)


Tintas, aerógrafo, rolo e pincéis. Estes são os instrumentos de trabalho do autor das paredes coloridas e muitas vezes nostálgicas, que se consolidaram como pontos turísticos em Imperatriz, Maranhão. Edney Areia se considera especialista em retratos e trouxe um conceito de arte pouco explorado na cidade, desenhando personagens icônicos da cultura pop, utilizando cores vivas e contrastantes.

Apaixonado por quadrinhos, desenhos e animes desde a infância, as pinturas refletem suas raízes geek. Ele faz retratos de grande escala de personagens de programas de televisão marcantes, como a turma do Chaves, ou heróis famosos, como os Vingadores.

Também tem por tema personalidades reais, como Ayrton Senna, piloto de Fórmula 1 falecido em um acidente no Grande Prêmio de San Marino, em 1994. Areia registrou sua imagem em um grafite feito no muro da Fundação da Criança e do Adolescente (Funac), no bairro Três Poderes. “Eu considero ele um mito brasileiro, é a cara do Brasil”, afirma.

Primeiros traços

O artista explica que a paixão pela pintura vem “desde que se entende por gente”. Relembra que em seus aniversários o presente perfeito eram os cadernos de desenho e os lápis de cor. Desejo que não mudou muito desde então.

Seu primeiro trabalho como pintor profissional foi em 1996, aos 15 anos, em uma sala de videogames. Tomado pelo nervosismo, ficou frente a frente com aquela grande parede branca e iniciou o que seria sua marca registrada: retratos de personagens de jogos e desenhos que marcaram toda uma geração, como Sonic, Mario Bros, lutadores do jogo Street Fighter e Mortal Kombat. “Estava muito nervoso, mas fiz e o dono gostou. Foi um trabalho que eu gostei bastante de ter feito e desde lá eu nunca mais parei de pintar”, lembra, orgulhoso.


Robocop, Rambo e Jaspion. Personagens que fizeram sucesso nas décadas de 1980. (Foto: Reprodução/ Instagram)


A paixão por retratar as feições humanas está em seu DNA. Edney relembra que desde os sete anos sua atividade preferida era acompanhar o pai, Kydney Lopes, nos trabalhos artísticos que fazia. A melhor parte, sem dúvida, era quando ele o deixava preencher alguma parte da obra. Foi a maior influência que ele poderia ter tido, conta, em tom nostálgico.

Do começo do seu contato com as artes plásticas, Edney tem recordações nítidas do seu pai desenhando o bárbaro Conan, personagem de quadrinhos dos anos 1980, interpretado no cinema pelo ator Arnold Schwarzenegger. “O que eu gosto de fazer desde criança é retrato, figura humana. Eu lembro que meu pai fazia muitos desenhos do Conan. E eu via ele reproduzindo e achava muito bonito. Aquilo me serviu de inspiração.”

Sendo o primogênito de quatro irmãos, a arte corre nas veias da família Areia. Além do seu pai, seus irmãos também fazem parte do mundo artístico. Eder Areia, assim como o irmão mais velho, é artista plástico, realiza pinturas e desenhos em lugares fechados em Imperatriz, Maranhão, e em São Bento, Tocantins. Dono do seu próprio empreendimento, que chama de Espaço Arte, o irmão mais novo colore paredes de escolas, igrejas e bares.

André Areia é designer gráfico, ilustrador, faz animações em vídeo e é especialista em caricaturas digitais, trabalhando no ramo há mais de dez anos. Alexandre é professor de Português e Inglês e tem a arte como hobby, pintando somente nas horas vagas.


Homenagem a Ayrton Senna localizada na rua Bahia, no bairro Três Poderes. (Foto: Reprodução / Instagram)


Do papel ao muros

Inicialmente, o pintor era mais focado no lápis e papel, fazendo os esboços do que seriam rostos, com suas singulares expressões. A prática de pintar em muros veio de um projeto de dar vida às paredes da Funac, do bairro Três Poderes, que criou quando era professor de Artes do local. Seus traços bem precisos ficaram famosos e se transformaram até em pontos turísticos, servindo de cenário de fotos para pessoas que apreciam a sua arte.


Turma do Chaves, estampada na rua Bahia, no bairro Três Poderes, é trabalho marcante. (foto: reprodução / Instagram)


Muralismo


O termo muralismo surgiu no México, no início do século XX, em plena Revolução Mexicana, quando intelectuais opositores à ditadura de Porfírio Diaz (1876-1911) protestaram por meio de murais com artes realistas a fim de difundir e tornar acessível a arte para a sociedade, desligando-se dos tradicionais meios artísticos de divulgação, como museus e galerias.

O artista maranhense tem como referência nessa técnica, o renomado Diego Rivera (1886-1957), pintor de murais mais conhecido do México. Rivera acreditava que a arte poderia ser usada como um meio de luta contra a opressão, aproximando-a da população que antes não tinha acesso. Outro artista que influenciou Edney foi o paulista Eduardo Kobra, conhecido pelas pinturas hiper-realistas mescladas com cores fortes e que produzem um contraste sem igual.

Com uma boa trilha sonora, seu ritual sagrado antes de começar um trabalho é observar minuciosamente cada detalhe, por onde começar e qual o melhor tamanho. Às vezes, o processo criativo pode levar um dia inteiro, dependendo do grau de complexidade da obra.

Fascinado por desenhar a figura humana, o muralista não curte o estilo abstrato, suas artes são focadas em capturar expressões e colocá-las em murais, telas e no papel. Abusando das cores, começou a dar vida às ruas de Imperatriz de modo independente, na intenção de resgatar a importância de lugares e fortalecer a sensação de pertencimento de seus habitantes.

O impacto positivo foi quase instantâneo e atualmente Edney vive apenas do seu trabalho como pintor, desenhando em papéis, telas, compensados e muros. “O preconceito com o grafite diminuiu, as pessoas começaram a admirar mais, creio que porque alegra as ruas.”

Mural no Jardim São Luís homenageia o criador de personagens icônicos dos quadrinhos, Stan Lee (1922-2018). (foto: reprodução / Instagram)



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