Cenas do Rock em Imperatriz
Gênero tem seguidores fiéis na cidade e pode ocupar mais espaço
Joana Vitória
Raica Thawanny
Com um número expressivo de bandas, festivais organizados em parceria e público cativo, o rock em Imperatriz tenta criar alternativas para o pouco espaço nos bares e casas noturnas, que costumam preferir as atrações da música sertaneja e do forró. Os únicos locais que ainda apostam no rock ao vivo são o Madame Bistrô e o Gatinhos Sushi Bar, conta o músico e compositor Anderson Lima, que tem atuação solo e integra a banda Melquíades.
“Você tem um mercado que é competitivo hoje. Os bares preferem ter o sertanejo e o forró por aqui, nas suas agendas semanais. Já não é mais atrativo colocar bandas de rock, mesmo que seja o pop rock, ou músicas clichês, de Jota Quest a Legião Urbana”, analisa Anderson. Ele atribui o fenômeno a um reflexo da indústria musical brasileira.
Nesse cenário mais disputado, as bandas têm preferido organizar festivais “com o intuito de fomentar o público e ganhar dinheiro”, entre os quais Anderson destaca o Volume, Alterloop, Rock 2000 e o mais descompromissado Dead Melquíades, “confra de final de ano com todo mundo que começou junto”. Essa tendência foi consolidada pelos mais antigos e hoje extintos Sonora, Rock Me Please e Rock Beer. “Uma característica legal do Sonora, é que o lucro e as despesas eram repartidos por igual entre as bandas. Depois, virou uma marca e foi copiado, mas sem a divisão dos lucros, pelos outros festivais”, descreve o músico.
Apresentação no Rock 2000, um dos festivais que agita a cena rock local. (foto: Instagram Rock Itz)
As apresentações costumam ser organizadas pelas próprias bandas, artistas e produtores, como é o caso de Gabriel Delmondes, que está no meio musical desde os 15 anos. Hoje, com 22, já colaborou em eventos de rock na cidade como a Indie Party e Los Hermanos Cover. “O padrão de qualidade dos eventos de rock da cidade é o mesmo dos sertanejos privados. Mesmo acontecendo uma vez no mês, enquanto o outro fomenta dinheiro todos os dias”, afirma Gabriel que, além de produtor, é cantor e compositor.
Adian Gouveia Limeira, 33 anos, secretário e digital influencer, curte o rock na cidade principalmente participando das edições de eventos como o Rock 2000 e o Volume Festival. Um amigo de infância e as músicas que tocavam na rádio o despertaram para esse segmento musical. “Comecei a gostar mesmo através da rádio Mirante FM. Nos anos 2000 ela era muito voltada ao público jovem, tocava só música, pop, pop rock e rock. Foi uma coisa extraordinária, porque tocava de tudo, todas as bandas que eu sempre gostei. Então, assim, despertou essa paixão”, conta Adian.
No evento Rock 2000, realizado em junho de 2023, Adian assistiu as bandas covers tocando as músicas de sua preferência. “Pra mim foi sensacional poder vivenciar no festival o que eu já vivenciei muito nos anos 2000, e poder ver as pessoas tocando. A emoção é ver que muita gente em Imperatriz gosta tanto de rock”. Impressão que ficou ainda mais marcada com a participação no Volume Festival, que realizou a sua sexta edição em agosto de 2023. “Pude ver que esse segmento é muito forte em Imperatriz. Foi lá que fiquei mais impactado com isso. Pude conhecer novas pessoas”, afirma Adian.
Público empolgado na segunda edição do Rock 2000. (foto: Instagram Rock Itz)
Mas ele gostaria de assistir mais shows de artistas nacionais. “Poderia melhorar, trazer bandas nacionais, mais conhecidas, um evento grande ou trazer uma banda ou artista específico pra tocar, como a Pitty, NX Zero, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso. O gênero é muito forte na cidade”. Para Adian, os produtores não devem ter medo, podem arriscar e produzir shows de artistas brasileiros em Imperatriz. “A gente percebe nos eventos cover a grandiosidade do público que curte esse gênero aqui”.
Público fiel e bandas
Os roqueiros costumam ser leais e presentes nos eventos do gênero em Imperatriz. “Cara, o que é mais legal é que toda vez que fazemos eventos vemos os mesmos rostos, a galera da frente é sempre a mesma”, relata Gabriel. “Nas festas de rock na cidade a gente vê um público bem mesclado, desde o pessoal mais velho até os mais jovens”, observa o roqueiro Lucas Holanda.
Melquíades é uma das bandas do cenário rock em Imperatriz. Anderson Lima, em primeiro plano, destaca o surgimento de bandas autorais. (foto: divulgação)
As bandas do gênero ativas na cidade são Melquíades, Dead Jack, Freedom, A Resistência, Ap. 604, além de Lady Velvet e Pop Dee, que também exploram o pop. Há ainda aquelas voltadas para eventos e formaturas, como Vitrola, Retrô e Lostalgia. A lista é do cantor e compositor Anderson Lima. Ele destaca o início de uma vertente de bandas com composições próprias, com a nova Bug Violet, surgida a partir da extinta Joining Invaders e a Balzaquians, porção autoral da Dead Jack.
Para Anderson Lima, entretanto, o rock já não é mais o ritmo da juventude e vem “definhando” há alguns anos. “Tanto que a galera que é dita roqueira já está com a minha idade, que é dos 35 para lá. Daqui a pouco vai ser o ritmo dos tiozinhos mesmo, baile indie, da juventude e tal”, comenta, com ironia.
Quem gosta de rock também sente a falta de eventos gratuitos, o que acaba restringindo o público. “Não estamos mais vendo shows de rock abertos para o pessoal, feitos em uma Concha Acústica, por exemplo. Não se incentiva as pessoas a ouvirem e nem a expressarem sua arte por meio do rock”, considera Lucas.
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