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“Cristo é da rua, é urbano’’

Denis Marinho, ou Profeta Mc, encontrou no rap gospel sua vocação musical


Julie Paz


Com duas músicas, "Eis-me Aqui"e "Aplausos", Denis Marinho volta ao rap regional, 10 anos depois do lançamento do primeiro álbum, O Poder da Rima (2012). Para esse novo momento da carreira, ele agora adota o nome artístico de Nabí. Se O Poder da Rima tinha singles carregados de regionalismo, como O Maranhão, que contou com a participação de Mano Borges e misturava rap com bumba meu boi, os últimos singles tem uma pegada mais trap, com direito a dancinha estilo Tik Tok criada e viralizada pelo Ministério de Dança da Igreja Nova Aliança – igreja que Denis participa desde a fundação. “Hoje eu canto em um palco enorme e lindo. Mas há um ano cantava para duas ou três pessoas, só com uma caixinha de som lá do Paraguai.”

Denis "aceitou Jesus" em um evento de rock gospel. (foto: Rennê Rocha)


Em 2021, Denis voltou a morar em Imperatriz. É gerente de tráfego on-line na maior parte do tempo, cantor e compositor nas horas vagas, marido da Camila e pai do pequeno Zion, filho do casal, de 2 anos.


O início


Nascido em Imperatriz, cresceu em bairros periféricos como Vila Fiquene, Vila Nova e Santa Lúcia, convivendo com a violência e a pobreza desde cedo. Para ele, o que o afastou do mundo das drogas e da criminalidade foi o esporte radical – Denis é skatista e patinador – a música e a igreja.


Denis conta que rap não era seu estilo musical favorito, inicialmente gostava mais de rock. Depois de conhecer o hip-hop, bebeu da água de nomes como Gabriel O Pensador, Racionais MC's e Marcelo D2, que foram suas fontes de inspiração para começar a compor suas primeiras rimas.


Aos 20 anos, se converteu a Jesus. Tudo começou em um show de rock na Associação Médica, onde ele e alguns amigos entraram achando que era um espetáculo “da pesada”. Como a maioria das músicas eram em inglês, Denis conta que não tinha a menor ideia de que estava em um evento cristão. “No meio do show, um pastor subiu no palco e começou a falar de Deus. Havia muitas pessoas no palco, intercedendo e orando por quem estava ali embaixo. Ninguém entendeu nada do que estava acontecendo ali, e quando percebi, eu estava chorando. Logo em seguida, o pastor perguntou quem queria aceitar a Jesus, eu dei um passo à frente. Não deu pra resistir, não tinha como dizer não.” Ele afirma que havia acabado de conhecer “a verdade”, e precisava mostrá-la por meio de suas composições.


Nos fones


Ao falar de suas influências musicais do momento, o rapper informa que sua playlist basicamente é composta por rap latino. “Por ter morado no Paraguai e em cidades que falam espanhol, hoje escuto mais raps nesse idioma. Nomes como Redimi2, Funky e Madiel Lara. Já na gringa, tem o Lecrae e o Andy Mineo, que eu já ouvi bastante.”


O cantor e compositor afirma produzir uma música para cada momento da vida, que não falam somente de Deus, mas também da vida do ser humano em sua totalidade.


“É assim, Deus tá lá na parada. Mesmo que eu fale de outras coisas, Ele estará em cada linha. Faço alguns sons direcionados para adoração, outros para exortação e outros pra evangelismo mesmo.”


O rapper na rua


Antes de lançar seu primeiro álbum, Denis utilizou o espaço urbano de Imperatriz e arredores para evangelizar com a sua música. Realizava pequenos shows nas praças, ruas e principalmente nas periferias. Conta que por diversas vezes foi expulso de casas e outros locais de onde era convidado para cantar ou apenas orar, por se apresentar de bermuda, boné, bem ao modo rapper de se vestir.


Mas foi à frente da CUFA-Imperatriz (Central Única das Favelas) de 2009 a 2011, que promoveu seu primeiro evento nacional – a 1º Cultura Battle, uma batalha de B-Boys, que tinha como objetivo promover a cultura hip-hop ainda pouco difundida em Imperatriz. O evento contou com o apoio do professor Marco Aurélio, hoje vereador. Na época ele ainda não ocupava nenhum cargo público.


Denis utiliza os espaços urbanos para evangelizar cantando rap. (foto: Ruanna Sá)


Depois do EP O que vier vai começar a ser…, Denis lançou o álbum O poder da rima, ambos de fato inspirados no estilo e na pegada dos rappers não cristãos como Marcelo D2 e Gabriel O Pensador. As faixas continham críticas à família Sarney, uma homenagem à cultura nordestina e a participação de outros rappers, como Raffa – irmão de Denis – Coral Conclamai Soul Music, Allef Mendes e Raimundo Valença, alguns nomes populares na região.


O cantor confessa que o rap o levou a muitos lugares onde ele jamais imaginou que seria aceito para falar do amor de Deus. “Fui convidado para cantar na UEMA e na UFMA, e sei que não foi pelo fato de ser crente, daquela maneira chata e careta, e sim por cantar rap gospel, com conotação social e falando dos problemas que todos enfrentamos. Mas também apresentando uma solução para eles, que é Cristo”.


Compartilhando um pouco sobre sua vivência imerso na cultura urbana, o cantor acredita que as estratégias de evangelismo precisam se adaptar à nova realidade.

“Realiza comigo a seguinte situação: eu parado na esquina com uma caixinha de som, falando e cantando a palavra de Deus. E imagina agora um evento com um banner bem bonito, atrativo e moderno, convocando a juventude para um megaevento de rap. Qual te parece mais eficaz?”


Para ele, toda estratégia é válida, já que cada pessoa é tocada de maneira diferente. Esforçando-se para analisar qual o papel da igreja na sociedade, ele afirma que quando “conheceu a Cristo”, foi a ocasião que teve um maior contato com a rua. E rechaça qualquer afirmação de que as igrejas evangélicas imperatrizenses estariam distantes das classes populares. “Não é verdade que a igreja é elitizada. Estamos esquecendo das pequenas congregações de bairros mais afastados do Centro e das cidades ao redor, onde a maior parte das pessoas sequer dá o dízimo, simplesmente por não ter mesmo”.


Denis argumenta que "Cristo é da rua, é urbano" e defende sua forma de cantar a palavra de Deus. “Jesus era um judeu comum, inserido ali em sua comunidade como qualquer outro, parte das mazelas sociais de seu tempo, ninguém jamais o apontaria e diria que ele era de fato, o rei. Ele se parecia com todo mundo mesmo”.


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