Dorameiras por paixão
Clube criado na cidade debate séries sul-coreanas
Venilson Sousa
Dorameira ou dorameiro é como se autodenominam os fãs dos doramas ou k-dramas, séries de TV sul-coreanas com temáticas sobre amor, inseguranças, dificuldades e sonhos. Em Imperatriz, o clube de leitura Hwaiting se dedica a maratonar, discutir o conteúdo e comentar novos episódios e obras clássicas do gênero. A cultura asiática tem ganhado forte influência fora do continente oriental, e o Brasil é um dos maiores consumidores de k-pop, animes e doramas.
Luciele Oliveira é professora e acompanha há um ano os k-dramas. Já assistiu mais de 80 produções desse universo e foi a última a se associar ao grupo de dorama, composto por seis mulheres. A influência por parte das amigas, que já se conheciam do Clube do Livro de Imperatriz, foi essencial para ela se tornar uma apreciadora do gênero. Três delas já assistiam doramas e conversavam entre si. A partir daí, se juntaram para ler obras de escritores asiáticos e, às vezes, falar dos k-dramas que estavam acompanhando. Luciele ressalta que o Hwaiting é um clube de leitura. “Mas os k-dramas são a nossa segunda melhor forma de entretenimento”, explica.
Integrantes do clube de leitura Hwaiting. (foto: arquivo pessoal)
Na primeira reunião que participou, Luciele se viu completamente perdida quando as colegas começaram a debater os doramas. “Até que uma delas me intimou a assistir um, O rei eterno. Confesso que na época não passei do primeiro episódio, pois achei muito confuso. Quando falei da minha experiência, elas disseram que normalmente é assim, a gente demora um pouquinho a se apegar com a história e com os personagens, nos dois primeiros episódios”, detalha Luciele. Depois de uma semana, ela resolveu dar mais uma chance e se deparou com o k-drama Pousando no amor. Gostou tanto que maratonou em dois dias os 16 episódios e já reviu duas vezes a temporada.
As amigas do clube sentiram a necessidade de criar um perfil de Instagram, o clube.hwaiting, até janeiro de 2023 com 320 seguidores, para falar sobre as leituras asiáticas e os doramas que acompanham. Lá, compartilham reações e acabam conhecendo outras pessoas que são apaixonadas pelo assunto, que são muitas, de acordo com Luciele. A princípio, como confessa, a professora que tinha um certo preconceito, afinal muitos tendem a achar que só as produções ocidentais são de boa qualidade. Mas ela considera que o formato de 16 episódios de uma hora cada, geralmente concentrados em apenas uma temporada, causa grande impacto, além de permitir conhecer mais sobre outra cultura.
“A visão que a gente tem com relação à história, geografia, economia e as tradições dos povos orientais, eu percebi que meu conhecimento acerca de tudo isso era de quase 0,1%”.
Os doramas contam aspectos dos povos asiáticos na visão coreana, como as razões e consequências da guerra ocorrida nos anos 1950, que levou à divisão da Coreia em duas. Ou o envolvimento do Japão e as violências cometidas nos momentos históricos. Além de se interessar pelas comidas típicas, as músicas e a forma como as pessoas vivem por lá, as dorameiras se concentram não só nos aspectos positivos descritos nos k-dramas. Também é possível perceber a realidade de um país, que, embora do primeiro mundo, enfrenta dificuldades e desigualdades. "Tem a questão cultural, tudo que é novo nos atrai. As comidas, as músicas, os atores, que cá entre nós são belíssimos. As lendas, mitos, a própria história do continente, que é bem diversificada, faz com que a gente queira aprender e consumir mais”, considera Luciele.
Perfil elaborado pelas participantes traz dicas e curiosidades.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Coreana para Intercâmbio Cultural Internacional revelou que o Brasil é o terceiro lugar no mundo e o primeiro nas Américas no qual houve acréscimo na audiência de doramas coreanos. As mulheres, segundo o mesmo estudo, são as que mais consomem esses dramas, sendo 85% dos telespectadores. Assim como as séries ocidentais, as produções coreanas têm vários gêneros. A comédia romântica é mais presente nos dramas e a mais consumida.
Temática de gênero
Outra apreciadora dessas produções asiáticas é Elenir Castro, 32 anos, estudante de jornalismo, que começou a acompanhar as produções Boy’s Love (BL' s) em 2018. Apesar deste gênero ter origem japonesa, os BL’s tailandeses e coreanos são os que mais fazem sucesso, se tornaram um grande fenômeno mundial nos últimos anos.
Isso porque tem sido estimulado pelo lançamento de inúmeras produções de séries asiáticas com a temática dos relacionamentos entre dois meninos. “Até 2018 eu acompanhava apenas doramas, mas me interessei pelos BL's quando assisti um vídeo no YouTube que fazia o resumo do BL Kiss Me, da Tailândia. Depois disso resolvi pesquisar sobre o gênero e aqui estamos quatro anos depois”, diz Elenir.
A Tailândia se tornou um dos países que mais produz dramas do gênero e que já tem um mercado consolidado, com uma audiência de 151% das produções de BL’s. Até mesmo
na China, onde há uma repressão às cenas de romance entre homens, existem alguns dramas muitos conhecidos pelo público. A Coreia do Sul também aumentou o número de produções do gênero, começando a dar mais espaço para a representação de homossexuais como personagens principais.
Apesar da maioria apresentar uma temática divertida, algumas dessas obras abordam assuntos sérios, como depressão, abuso, relacionamentos familiares tóxicos, entre outros. "Para quem tem curiosidade e nunca assistiu, recomendo TharnType, Manner of deathand until we meet again” [na imagem], propõe a estudante de jornalismo.
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