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Duas artesãs do coco babaçu

Elza Alves e Bárbara da Silva trabalham com fruto típico do Maranhão


Denise Ribeiro


“Passei a enxergar o coco com olhos de artista, já idosa”, conta a artesã Elza Alves, 72 anos. Sentada em sua cadeira azul de balanço, ela lembra o início de seu trabalho com o artesanato feito com o babaçu, fruto de uma palmeira nativa do país (Attalea speciosa), que tem sua maior área de plantio no Maranhão.


Elza ainda era criança quando via a sua mãe, sem emprego fixo, ir até os cocais atrás do babaçu. “Ela quebrava, fazia carvão, fazia de um tudo. Antigamente, era normal sobreviver do babaçu, não tinha muitas opções”. Esse trabalho ocorre nas comunidades do campo. Uma das formas mais comuns é a quebra do fruto para retirada das amêndoas, que depois são comercializadas. Também é possível extrair o seu óleo, utilizado na produção de sabão, sabonetes, entre outros produtos.


Elza começou com o crochê e atualmente usa o coco babaçu. (Foto: Denise Ribeiro)


“Foi apenas em 2020 que decidi trabalhar com o fruto. Nessa época eu já tinha cerca de 17 anos só de artesanato, trabalhava com o crochê e tantos outros itens. Mas foi buscando inovar e investir em novos trabalhos que passei a enxergar o coco com olhos de artista”, explica Elza.


O fruto tem aparência oval e mede de oito a 15 centímetros. O desenho do coco e das sementes funciona bem nas peças de artesanato. É a partir do manuseio dos artesãos e artesãs que o fruto tem se ressignificado, gerando renda e reforçando a cultura local.


“É graças ao artesanato que hoje eu consigo viajar o Brasil. Levo as minhas peças juntamente com as minhas amigas e vou mostrando um pouco da cultura maranhense e da quebra do coco, que é uma coisa que eu amo muito”, conta a artesã Bárbara da Silva, 27 anos.


Assim como Elza, Bárbara conheceu o babaçu ainda criança. “Minha mãe era quebradeira de coco e desde pequena olhava ela usar o coco para basicamente tudo. O contato, porém, ficou mais forte quando aconteceu um evento na minha comunidade sobre o babaçu”, disse.


Hoje, ambas artistas participam da Associação dos Artesãos de Imperatriz (Assari), que existe há 25 anos e tem o objetivo de promover oficinas voltadas para o desenvolvimento de novas atividades e o aperfeiçoamento de técnicas para a criação de obras. De acordo com a atual presidente da Assari, a pernambucana Simone Fonseca, dos 338 artesãos cadastrados, 126 estão atuando em feiras, eventos e dentro do Centro de Artesanato, local fixo para exibir os produtos artesanais. A maioria dos profissionais tem mais de 60 anos e elabora diferentes tipos de artesanatos, entre eles peças com o coco babaçu.


Quem trabalha com fruto e mora em Imperatriz, encontra mais dificuldade na coleta, como é o caso de Elza. “Tudo começa com a busca do fruto, que por vezes é distante da cidade. Às vezes eu vou, meus filhos acabam indo ou pagamos outras pessoas para trazerem aqui. O fruto que costumo trabalhar é o de casca grossa, os outros não me interessam muito”.


Por outro lado, a artesã Bárbara faz a coleta em Coquelândia, comunidade na qual ela nasceu e mora até os dias atuais, situada a 36 quilômetros de Imperatriz. “Usamos os cocos da minha e de comunidades próximas. Como trabalho com o artesanato sustentável, os frutos que utilizo são aqueles que não terão serventia para as quebradeiras venderem ou fazer carvão: os que pegam chuva, sol, que estão há um tempinho em baixo da palmeira”, informou.


Bárbara participou de evento sobre o artesanato em sua comunidade. (foto: acervo pessoal)


Segundo as duas artesãs, o mais difícil é cortar o fruto, que é muito duro. É necessário o uso de uma serra de arco e ter um prendedor para segurar firme o coco, para não correr o risco de errar o corte e se machucar. Elas usam também máscaras e luvas. Após cortado, é preciso deixá-lo lisinho, passando o verniz e garantindo mais sustentação ao objeto.


Elza enfrenta, também, a dificuldade do acabamento. “Tenho ainda problema com a parte da colagem. Já fiz trabalhos que não saíram como esperado, por conta da cola que usei errada. Hoje, como forma de aperfeiçoamento, busco na internet dicas e acabo me atendo a outros trabalhos feitos por colegas”.


A variedade de peças desenvolvidas indica que as artesãs têm total liberdade. “A criação de peças é um processo mágico. Criamos colares, cortinas, brincos, chaveiros e outros objetos. Fazemos tudo em grupo, uma ajudando a outra”, contou Bárbara.


Já Elza, geralmente trabalha sozinha e mesmo desenvolvendo os mais variados itens, como barcos, animais e joias, dedica-se principalmente ao porta-caneta. Segundo ela, é o que mais sai, os turistas são os mais interessados. “Sempre tem encomendas, as pessoas que vêm passear por aqui ficam admiradas, pedem, e eu faço com todo prazer”.


O setor de artesanato representa aproximadamente 3% do Produto Interno Bruto (BIP) do Brasil e movimenta cerca de R$ 50 bilhões por ano. Em 2022, os dados oficiais do Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiros (Sicab), indicaram que o país tinha cerca de 8,5 milhões de artesãos, a maioria mulheres, que vivem exclusivamente da produção.


Além de contribuir para a economia do país, a profissão tem o poder de curar, como testemunha Simone. “Trabalhei muitos anos administrando empresas e sempre tive amor pelo artesanato. Quando me mudei para Imperatriz, decidi trabalhar para mim e me dediquei ao artesanato. Ele é mais que fonte de renda: é terapia, empoderamento. Ele faz com que eu ajude outras pessoas e é isso que me faz feliz”.


O artesanato é capaz também de estimular novos vínculos afetivos. A parceria entre comunidades representa muito para Bárbara. “O artesanato que trabalho trouxe pessoas maravilhosas para minha vida, que hoje eu considero minhas irmãs. Temos a oportunidade de sentar para conversar, de ter momentos de trocas. Podemos expandir algo da nossa cultura e conhecer de outras, e isso é bom demais”, disse.


O artesanato, de maneira geral, fortaleceu-se nos últimos seis anos na cidade, mesmo com algumas dificuldades, como o pouco reconhecimento da população e do poder público. “Sinto que a nossa profissão podia ter mais visibilidade na região, no estado. Muita gente não sabe, no entanto, ele é nossa válvula de escape, nossa ocupação. Ficaria dias e dias produzindo, porque eu amo", garante Elza.


Peça comum feita a partir do babaçu pelas mãos das artesãs. (foto: Denise Ribeiro)


Para além do artesanato


O coco babaçu é mais versátil do que se pode imaginar, pois cada uma de suas camadas tem serventias diversas. A primeira, por exemplo, pode ser usada na fabricação de estofados de veículos e na produção de vasos de fibra natural. Já a segunda, o mesocarpo, pode virar farinha, muito útil na área de confeitaria e de panificação. O coco ainda apresenta uma terceira parte, o endocarpo, a mais resistente, usada na confecção de biojoias e na produção de carvão.


No interior do fruto estão localizadas as sementes, parte mais valiosa no mercado. Isso porque é delas que são extraídas o leite e o óleo de coco, utilizados na gastronomia e cosméticos naturais.


Assim como o fruto, a palmeira em si tem muitas funções. Suas folhas grandes podem cobrir moradias e ainda servir de alimento para animais, em especial no período da seca. O caule ou tronco da planta é aproveitado na construção de casas, extração de palmito e, quando apodrecido, torna-se adubo para plantações.


A maioria das peças artesanais são feitas e podem ser encontradas no Centro de Artesanato: rua Urbano Santos - Centro, Imperatriz - MA, 65907-230; Ou, se preferir, é possível entrar em contato com as artesãs pelos números:

(99) 99131-1217 - Bárbara da Silva.

(99) 99167-9941 - Elza Alvez.


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