“Hoje não somos só uma banda de bar”
Dizneilandia Dandi investe cada vez mais no trabalho autoral em São Luís
Wallisson Marques Santos
Marco Moraes, Ramon Ferreira e Lima Jr. criaram a Dizneilandia Dandi em 2011. (foto: Rogério Sousa)
Foi em meio às confraternizações entre amigos, assuntos aleatórios e ideias inusitadas que surgiu a ousadia dos músicos Lima Jr. (vocal e baixo), Marco Moraes (guitarras e teclado) e Ramon Ferreira (bateria e percussão) de formar, em 2011, a banda Dizneilandia Dandi. A ideia era fugir dos ritmos que marcam a capital maranhense, São Luís, como o bumba-meu-boi e o reggae e aproximar-se de um rock pop mais direto, com influência dos conjuntos brasileiros dos anos 1980 e composições autorais.
A trajetória da banda pode ser conferida nas plataformas digitais de música em um EP, Espaço tempo, lançado em 2018 e nos singles A paz que eu preciso, de 2019, Gravidade, de 2020 e La paz que necesito e Poema da indiferença, divulgados em 2022. O lançamento mais recente, em outubro de 2022, foi a canção Espaço tempo, registrada ao vivo. No seu perfil do Instagram (@dizneilandia_dandi), os integrantes prometem para breve um disco completo, com um compilado de músicas apresentadas em shows realizados em 2021 e neste ano.
Em um cenário de aventura e descontração, os ludovicenses de bandas diferentes, TheMats e LiverPaul, se uniram em 2011. O nome que pensaram é referência direta à canção “A revolta dos dândis”, dos Engenheiros do Hawaii, sua maior influência nas melodias e letras. A Dizneilandia Dandi apresenta um estilo musical envolvente, que tempera um pop-rock nacional com a influência de bandas e artistas que marcaram época, como Cazuza, Raul Seixas, Tim Maia, Mamonas Assassinas, Ira, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana e outros, consagrados da MBP e internacionais, do rock clássico.
O grupo foge um pouco dos ritmos culturais mais tradicionais no estado. Ramon destaca que a cultura regional é mais voltada para um nicho folclórico, que envolve desde danças tradicionais como bumba-boi e carnaval, até ritmos musicais como reggae, forró e sertanejo, que são bastante fortes em todo o Maranhão. A influência da banda, por outro lado, segundo o baterista Ramon Ferreira, é oitentista e ligada aos representantes do sudeste e do sul do Brasil. Ele destaca Engenheiros do Hawaii e Paralamas, que exploram nuances rítmicas e culturais voltadas para o pop-rock, com vertentes do reggae e do rock. “O nosso som aqui no Maranhão é pouco visto. Até pelo estilo mesmo, pelo público do pop-rock maranhense. São poucos aqueles que já tiveram oportunidade de sair daqui”, declara Marco.
Do cover à autoria
O primeiro show da Dizneilandia Dandi aconteceu no bar Amsterdam Music Pub, em São Luís, que solicitou um especial Engenheiros do Hawaii. “O intuito era nos reunirmos para fazer esse especial. Mas a apresentação teve tanta sintonia, que resolvemos seguir com a banda, inicialmente fazendo covers do universo pop-rock nacional e internacional, além de inserir excentricidades no show, como dois covers de Reginaldo Rossi”, conta o tecladista e guitarrista Marco Moraes.
Integrantes da Dizneilandia Dandi resolveram investir mais nas canções autorais. (foto: César Júnior)
Como toda banda, no início eles sofreram com problemas como a falta de valorização cultural, de espaço no rádio e televisão e até pagamentos de cachês, que não cobriam boa parte das despesas em relação à estrutura e investimentos básicos necessários para as apresentações.
Já o período do auge da Covid-19, em 2020 e 2021, não afetou de forma tão dura a Dizneilandia Dandi. Ramon explica que os integrantes já estavam focados no processo mais interno de produzir composições autorais, lançando-as nas plataformas de streaming e tocando menos. “Hoje não somos uma banda de bar que faz shows sempre. Temos uma consciência e concepção que, daqui para frente, queremos produzir, não voltar para tocar apenas. Queremos nos preparar para lançar e gravar um próximo disco”, destaca o baterista.
Relação sincera
Os músicos dizem que buscam transmitir nas letras das canções temas ligados à sinceridade e à verdade. Para Marco Moraes, a música deve estar ligada aos sentimentos dos artistas.
“A gente sempre buscou, com muita simplicidade sonora, mensagens que te façam pensar nas coisas da vida, da rotina, do comum”.
Para Marco, a relação com os fãs é uma experiência única em cada show, já que o sentimento de empatia despertado pelas músicas atrai um público próximo e fiel que acompanha a banda. “Recebemos muito carinho, principalmente em relação ao trabalho autoral, sempre fomos uma banda mais "lado B". Isso às vezes é legal, porque o seu trabalho vai falar muito de ti, o que está registrado nas mídias digitais, como Spotify, Youtube e Deezer expressa essencialmente o que somos, nossa música”.
Amor à primeira batida
Tenile Maria, 22 anos, estudante, seguidora e apaixonada pelas músicas do grupo, conheceu a banda em 2018, quando fazia apresentações na praça de alimentação de um shopping em que ela trabalhava. “Me apaixonei pelo estilo, meio MPB e rock n' roll. As músicas deles trazem paz para alma, pro coração, principalmente para quem gosta, eu sou um exemplo vivo disso”, assegura. Para Teline, as chateações vão embora ao ouvir as canções do Dizneilandia Dandi. “Quando eles chegavam e geralmente cantavam Wanderwall, do Oasis, eu esquecia que estava com problemas. Amo essa música na voz do Lima [vocalista da banda]”.
Teline recorda que assim que descobriu como se escrevia o nome da banda, o que gerou certa dificuldade, começou a segui-la nas redes sociais. “Eles são foda, me presentearam com uma camisa e me deram um convite pra ir ao lançamento do álbum Espaço tempo. Eles têm muita importância na cultura maranhense, muito mesmo, bandas como essa deveriam ser mais valorizadas”.
Ela afirma que a falta de espaço em São Luís e no estado para a difusão do trabalho da Dizneilandia Dandi é um velho dilema dos artistas maranhenses. “Se todas as pessoas conhecessem um pouco do trabalho deles, iriam gostar. E eles cresceriam, sairiam do estado e levariam o nome do Maranhão para fora da região, como aconteceu com Alcione, Pablo Vittar, Zeca Baleiro. Nenhum deles canta o estilo rock, acho que se ainda estamos um tanto quanto atrasados nisso, é por falta de valorização das pequenas bandas locais”, analisa Teline.
O casamento da química industrial Juliana Alves, animado pela Dizneilandia Dandi, foi um misto de memórias gratificantes e de momentos compartilhados com os amigos e seu esposo. Em um elopement wedding (termo para definir casamento a dois), o grupo provou que um bom show não é resultado apenas da quantidade de pessoas presentes, mas, sim, da intensidade do momento.
“A banda tem uma coragem imensa e representa muito o estilo que se propõe. São capazes de fazer um ótimo cover, reproduzindo de maneira impecável clássicos. Mas também mostram talento em músicas autorais, o que os diferencia dos demais”, observa Juliana.
Para o seu esposo, o engenheiro eletricista Maycon Noleto, o sentimento compartilhado é o mesmo. Na sua opinião, a intensidade e a experiência que a banda proporciona para os fãs é algo que os diferencia dos outros conjuntos regionais de rock e, por isso mesmo, a qualidade é o fator para destacar a representatividade da importância do Dizneilandia no cenário maranhense.
“As músicas da banda me trazem um sentimento de amor pela música, em especial o rock. Em uma época na qual os outros ritmos musicais são tão divulgados e lucrativos, manter-se fazendo o que gosta é um desafio. Então, as músicas covers, mas principalmente as autorais, representam uma resposta a isso”, acredita Maycon.
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