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Luz, câmera e fé

Bastidores do cinema gospel de Imperatriz


Joassan Trajano


Foi o desejo de desenvolver projetos cinematográficos com palavras de esperança e fé para a juventude de Imperatriz e do Brasil, que levou o diretor autodidata em cinema, Luaran Lins, 42 anos, a criar, em 2009, a Yaveh Filmes. Parte do material é produzido, captado e editado em Imperatriz e o restante é finalizado pelo editor Gildagio Amorim, em Balsas.


Com atores em sua maioria da igreja Assembleia de Deus de Imperatriz, a produtora já conseguiu lançar três filmes, estreando com Renúncia (2011). Renascer (2014) foi premiado como Melhor Maquiagem de Longa-metragem no III Festival de Cinema Cristão. O último, Bené (2022), foi dublado para a espanhol e já está com 1,5 milhão de acessos em 35 países. Em 2024 está previsto o lançamento de um novo filme, que abordará as relações familiares em contraste com o uso da tecnologia. O roteiro já está pronto, e em fevereiro haverá audições.

Diretor Luaran Lins com gramofone durante a produção do filme Bené. (foto: Felipe Mota)


Luaran conta que a produção de um filme envolve a concepção inicial, a elaboração do roteiro, a preparação de storyboard, ou roteiro de enquadramentos e a seleção de elenco. Neste caso, foram realizadas audições em Imperatriz para escolher e treinar os atores e atrizes. Após essa fase, vem a preparação dos cenários dos sets de gravação para começar a captação das cenas em si. A pós-produção, com a edição, colorização, trilha sonora, finalização e o lançamento do filme, completam o processo.


"É difícil encontrar pessoas que tenham habilidades para poder desenvolver com maestria cada uma das etapas. E, em especial, quando você faz filmes como a gente chama: filmes de guerrilha, né? Ou seja, é na raça, no voluntariado’’, comenta Luaran Lins.


O diretor relata que quando fez seu primeiro filme, usou um equipamento bem inferior. “Era o que a gente tinha na época. Já Renascer, foi feito com outro tipo. Com o meu último, o Bené, eu já fiz dentro de um padrão aceitável pelas plataformas de streaming, como Netflix e Amazon Prime.” Atualmente, ele usa câmera de cinema, a Blackmagic 6K pro, equipamento de linha de entrada no campo cinematográfico.


“Mais do que você ter bons equipamentos precisa ter uma boa ideia. Às vezes você tem uma Ferrari e não sabe pilotar, então não adianta muita coisa”, compara Luaran. Ele concorda que a qualidade de uma produção depende de tecnologia, porém, pondera a importância de elaborar bons roteiros e contar com atores e equipe de qualidade para fazer a diferença.


Para ele, é possível fazer um filme hoje com um celular. “Às vezes pega um iPhone, né? E vai lá e faz um filme. Tudo bem, pode ser um filme simples, mas às vezes tem um bom roteiro, e acaba ganhando o coração das pessoas. Então, vai muito do tipo de produção e do roteiro que você tem em mãos para produzir”, detalha.


Gildagio Amorim com a câmera Blackmagic 6k Pro, durante a produção do filme Bené. (foto: Felipe Mota)


Seleção dos atores


As grandes produtoras de cinema têm um banco de dados com sugestões de atores profissionais. ''Quando a gente não tem essa disponibilidade financeira de um casting profissional, a gente acaba abrindo para audições. As pessoas que tenham interesse e que acham que, de alguma forma, tem o mínimo de possibilidade em desenvoltura para poder atuar no filme, vêm pra uma audição”, explica Luaran. Depois dessa seleção, os escolhidos passam pelo processo de preparação. Para Bené, foram realizadas mais de 200 audições, e 300 pessoas se inscreveram para participar. As próximas ocorrerão nos meses de fevereiro e março de 2024.


Trailer do Filme Bené (2022)



A atriz Ruth Evan fez o papel da Mina, namorada de Bené, atuando de forma voluntária. "Apesar de situações complicadas que estava passando na minha família, tive uma experiência positiva. Me ajudou a ter uma melhor dimensão do que é o cinema na prática, o que creio ser de grande importância para mim, que tenho interesse nessa área.”


Para ela, não foi fácil representar o papel da namorada de um presidiário no filme Bené. “No início, quando fui selecionada para atuar no filme, tive muita dificuldade por se tratar de uma personagem inserida em uma realidade totalmente distinta da minha vivência. Porém, ao longo das gravações fui aprendendo e me familiarizando e logo tudo deu certo.’’


Falta de recursos


A produção de filmes locais sofre com a falta de recursos e de interesse de financiadores. “Não generalizando, mas a maioria eu digo. Porque eu bati em várias portas de empresários com projetos aprovados que não deram crédito e não quiseram financiar, mesmo tendo abatimento no imposto de renda, como garante a lei, através do incentivo fiscal.” Para garantir os recursos para os filmes, foi preciso a ajuda de pessoas próximas e da comunidade cristã.


“Alguns amigos, entre eles pastores, se juntaram para financiar. Não houve uma empresa específica que foi lá e financiou o projeto. São várias pessoas que acabam ofertando, e a gente vai podendo construir o projeto e chegar ao nosso objetivo final”, conta Luaran Lins.


No Brasil, a produção de um filme pode custar R$ 5 milhões ou mais, dependendo da complexidade da produção. Os atores profissionais cobram cachês altíssimos. Além disso, há os custos com técnicos, locações de equipamentos, alimentação para a equipe e as despesas de viagem.


Luaran relata que produz filmes com um valor bem abaixo do mercado. “O meu último filme, o Bené, consegui produzir com R$ 200 mil, mas um filme deste estaria orçado em R$ 2 milhões, no mínimo. Então, consegui fazer com dez por cento do valor real”. Porém, a maioria das pessoas trabalhou sem cobrar. “Inclusive a minha pessoa como roteirista, como diretor, os outros diretores, a maioria dos atores, todos eles foram voluntários.”


Público local


Hoje um dos grandes problemas enfrentados por produções de filmes nacionais é a desvalorização do próprio público brasileiro, são poucos filmes de sucesso. O diretor da Yaveh Filmes conta que teve bons resultados com o público evangélico. “A aceitação dos meus dois primeiros filmes, Renúncia e Renascer, foi muito boa. Obviamente preciso levar em consideração que na época eu estava como presidente da Juventude das Assembleias de Deus em Imperatriz e, a partir do cargo que a gente exercia, nós conseguimos também mobilizar muita gente da igreja para poder assistir o filme”, revela Luaran. Os dois primeiros estrearam no Palácio do Comércio, enquanto Bené foi exibido no Templo Central da Assembleia de Deus.



Trailer do Filme Renúncia (2011)


Trailer do Filme Renascer(2015)


Os cinemas, por seu lado, estipulam exigências para exibir um filme local. Para disponibilizar uma sala do cinema para a transmissão, é necessário que a produtora realize a mobilização de um público considerável, pois se não tiver um bom retorno financeiro, não compensa para a empresa. Luaran conta que não fez a estreia de suas produções no cinema, por conta da falta de recursos financeiros. “Como a gente fez um filme com baixo orçamento, nós não tivemos condição de investir uma grana no marketing desse filme. Não tinha como levar o filme para a sala de cinema, porque teria que ser feito um investimento de mídia muito alto.’’


A atriz Evan Ruty confirma que a aceitação do público foi positiva. “A estreia do filme Bené no Templo Central, em fevereiro de 2022, superou as expectativas. Ficou superlotado, tinha mais de 10 mil pessoas, além de ser transmitido em várias cidades próximas a Imperatriz’’, relembra.


Todos os três filmes produzidos pela Yaveh Filmes, estão disponíveis no Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCgem5tox4TYT2f16-CmzYVA



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