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“Minha maior inspiração é o dia a dia”

Teatro, comédia e o rádio na vida do artista Rogério Benício


Joana Vitória

Raica Thawanny


Apaixonado pela arte, principalmente pelo teatro, o ator, publicitário, radialista, roteirista e diretor do grupo de teatro Okazajo, Rogério Benício, desde a infância sempre gostou de criar e tomar a frente da direção dos espetáculos em que participava na escola. Apesar de sua precária condição financeira e do preconceito sofrido por ser homossexual, Rogério conseguiu traçar seus objetivos com a mesma dedicação que desenvolve os seus projetos, à mão, em cadernos. Hoje, aos 38 anos, carrega uma bagagem de muitos desafios, 26 anos de teatro e cerca de 24 roteiros criados. Após dez meses sem subir aos palcos, o grupo Okazajo retornou em setembro, com uma nova versão da peça A melhor comédia do mundo.


Com 26 anos de teatro e 24 roteiros, Rogério Benício é um dos criadores mais produtivos de Imperatriz. (foto: divulgação)


Nascido em Imperatriz (MA), filho de Maria do Socorro, manifestou seu interesse pela arte ainda criança. No terreno baldio ao lado de sua casa ele se divertia criando o seu próprio “xou” inspirado pela artista que ele tanto admira, Xuxa Meneghel. Sua primeira experiência teatral foi na igreja católica, com nove anos de idade, dirigindo e atuando. Aos 17, participou de uma oficina de teatro na Fundação Cultural. Mesmo o amando muito, sua mãe era desfavorável à sua carreira artística e desejava que seu filho seguisse uma formação acadêmica. Apesar de não apoiá-lo no início, hoje ela é uma grande fã.


“Eu tinha muito medo de não conseguir seguir meu processo artístico se iniciasse a faculdade”, afirma Rogério. Aprovado em dois vestibulares, de direito e administração, ele escondeu de sua mãe a notícia, não se matriculou em nenhum, e continuou investindo nos palcos. Seu primeiro contato com o grupo de teatro Okazajo foi uma seleção de atores em 2003, no teatro Ferreira Gullar. Rogério não foi aceito para fazer parte da trupe, mas não se contentou com esse “não”. Em uma outra oportunidade, ele foi chamado para substituir um outro ator, acabou surpreendendo e sendo admitido após se destacar no espetáculo.

Mesmo com dificuldades, passou a se apresentar até mesmo em outras cidades do Maranhão, conquistando fãs e admiradores. “Minha maior inspiração, é o dia a dia…amo ouvir as histórias das pessoas”, confessou sobre seu processo criativo para elaborar os espetáculos.



Após a saída da fundadora do grupo, Isa Makwen, Rogério se tornou o novo responsável. Desde então, já foram mais de 700 sessões apresentadas e milhares de pessoas apaixonadas pelas apresentações do Okazajo. O grupo já tem 20 anos e marcou uma geração de imperatrizenses. Entre as comédias de maior público destacaram-se: Mundirela-a Cinderela do Maranhão (2010), Crepúsculo-Boca da noite (2013) e Titanic-Da Sumauma ao Imbiral (2011), a última sendo apresentada até três vezes seguidas na sessão noturna, com a duração de duas horas cada.


Apresentação do Okazajo após o período de isolamento social. (foto: divulgação)


O ator e roteirista mantém um programa de rádio na Imperial FM, da qual também é diretor artístico, de segunda a sábado, das 9h ao meio-dia, chamado Show do Benício. No material de divulgação, além do bordão “escuta a gente nem que for para falar mal”, consta que a atração é uma mistura de entretenimento, informação, fofocas sobre os famosos, horóscopo e entrevistas com artistas, “tudo acrescido ao humor e irreverência de Rogério Benício, numa interação direta com os ouvintes”.


Devido a um semestre de ausência do grupo nos palcos de Imperatriz e a cobrança do público por novos espetáculos, os componentes chegaram a elaborar uma carta divulgada nas redes sociais em julho de 2023, como se fosse “assinada” pelo próprio Okazajo: “Ainda respiro, com a ajuda dos equipamentos do Socorrão, será que um milagre poderia salvar uma história tão poderosa?”. O motivo apontado para a interrupção é uma multa “enorme” aplicada pela Ancine, após o grupo ter levado cerca de cinco mil pessoas ao cinema, em sua experiência cinematográfica Crepúsculo- Boca da noite, parodiando os filmes de vampiros adolescentes.


O texto lembrava que a trupe surgiu em meados de 2002, “quando um grupo de amigos apaixonados por arte me criou, de forma despretensiosa. Nem nos maiores sonhos imaginaram o que eu me tornaria”. Destacava os momentos em que foram “impedidos de entrar nos espaços artísticos, humilhados na porta do teatro” e, mesmo assim, “juntaram moedas” e pagaram o aluguel do espaço.


“Nas primeiras peças, apenas a família comparecia, confesso que a metade abandonava a apresentação antes do fim. Ninguém nasce perfeito, não é mesmo?”, mencionava o Okazajo “autor” da mensagem. Logo depois, frisava o auge do sucesso: “Sessões e mais sessões lotadas, três por dia, durante três dias da semana. Minha trupe era incansável”. Por fim, o Okazajo, personificado em escritor da carta, exclamava: “Hoje, ainda luto! Não me vejam como arrogante, aceitem ou não: sou a maior referência artística da cidade”. O retorno do grupo, com A melhor comédia do mundo, anuncia um novo período de ações criativas.


Rogério conta que sempre teve o pensamento e ideias bem acelerados e no seu processo criativo não é diferente. “Gosto de fazer todos os meus roteiros no manuscrito. As ideias fluem muito rápido e eu não teria tempo de digitalizá-las”. Em suas criações, ele busca falar sobre o cotidiano das pessoas, principalmente das mazelas sociais, com tom crítico. “Um grande segredo da comédia é fazer as pessoas se identificarem”, ressalta. Para ele, o teatro de comédia é uma forma de transformar situações tristes ou que poderiam ser traumáticas, em algo que desperta divertimento e conscientização no público.


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