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Narradores do apocalipse

King Gizzard & The Lizard Wizard lança álbum sobre pós-catástrofe climática

O universo pós-apocalíptico retratado pela banda na capa do álbum. (imagem: divulgação).


Artur Marques


A banda australiana King Gizzard & The Lizard Wizard lançou no mês de junho seu primeiro trabalho do ano de 2023, o PetroDragonic apocalypse; or dawn of eternal night: an annihilation of planet Earth and the beginning of merciless damnation. O álbum, que chegou às plataformas digitais com sete faixas e oito na versão de LP, que possui faixa exclusiva, é mais uma das obras do grupo a tratar dos riscos que a crise climática apresenta à humanidade.


Ao longo de uma discografia extensa, com 24 álbuns de estúdio lançados em um período de 11 anos, Stu Mackenzie (vocalista, multi-instrumentista e compositor da banda) e seus companheiros têm abordado o tema a partir da elaboração de um universo pós-apocalíptico, que engloba seres mágicos, viagens interplanetárias e ciborgues. Esses e outros personagens, além dos acontecimentos fantásticos, unidos, compõem a analogia às ações violentas que temos tomado contra o meio ambiente desde o nascimento das civilizações e as consequências que a falta de uma relação harmônica com a natureza tende a nos proporcionar.


PetroDragonic apocalypse é mais uma experimentação musical realizada pelo King Gizzard, que preserva o costume de variar as sonoridades alcançadas em trabalhos prévios a cada novo projeto. A banda, desta vez, passeia pelo thrash metal, já explorado no álbum Infest the rats nest, de 2019, e em algumas outras canções, porém, com maior exploração de solos de guitarra e bateria e músicas mais extensas, com progressividade mais destacada. Outros elementos que chamam a atenção são os vocais rasgados do segundo vocalista, Ambrose Kenny-Smith, e o throath-singing (técnica de canto original da Mongólia) de Stu e do guitarrista Joey Walker.


Dragões, bruxas e petróleo


Stu, compositor de todas as letras da obra, continua no disco a história de sua distopia trágica. Desta vez, mais visceral do que nas ocasiões anteriores, quando um ciborgue - em meio a uma Terra destruída por magos que desafiaram a condição humana ao atravessar um portal para outra dimensão chamado Eneágono Infinito em busca da vida eterna - angustiado pela saudade de se sentir humano, revoltou-se e decidiu destruir o restante dos humanos existentes.


Em PetroDragonic apocalypse, Stu descreve uma violência mais gráfica, com fezes sangrentas, afogamentos em lama, falta de ar e queimaduras totais do corpo. Consequências geradas pela resposta da natureza, desta vez representada por um rei dragão voador gigante, à toda violência a si direcionada, com destaque para o vício irrevogável da sociedade pela exploração do petróleo. Outras personagens do álbum são as bruxas, responsáveis pela invocação dessa criatura mágica.


Onde está Deus?


A forma como Stu buscou se utilizar dessas criaturas místicas atinge notas de uma crítica ácida à incoerência de discursos de religiosos cristãos, habitualmente ligados a movimentos de direita. Muitos desses simpatizantes contestam a veracidade da crise climática e mantém a fé em um paraíso futuro sem parar para pensar no rumo que seu próprio planeta tem seguido. A criatura reptiliana é apontada pelo vocalista como o único deus existente, que, ao ser invocado, destruirá tudo e todos da mesma maneira, com fogo.


Os momentos de destaque do álbum são as faixas Gila monster e Dragon, ambas lançadas como singles previamente. Os videoclipes também dão uma carga importante para a trama central da obra, pois marcam o clímax da narrativa construída. Outra que chama atenção é Flamethrower, com seus riffs pesados, em perfeita harmonia com uma letra que narra os instantes finais do extermínio realizado pelo dragão vingativo.


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