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O dançar de um sonho

Bailarino Bruno Cantanhede aposta no aprendizado constante


Lucas Aquino

Desde criança o bailarino Bruno Cantanhede estuda com profundidade a arte da dança. (foto: divulgação)


Sempre com muita vontade de dançar desde garoto, ele dizia que iria viajar com sua banda favorita para alcançar aquele sonho que, com 15 anos de idade, tomou forma. Bruno Cantanhede nasceu e foi criado em Imperatriz. Filho de pai balconista e mãe autônoma, estudou toda sua vida em escola pública. Na infância não conhecia nenhuma escola de dança e a ausência de internet o impedia de ter acesso a informações, só participava de eventos na igreja e em outras ocasiões. Aos poucos foi dançar seu sonho.


O contato real com a dança aconteceu em 2014, quando entrou para a Escola de Danças Flávia Homobono, em Imperatriz. No mesmo ano, participou do festival Dança Pará, que ocorreu em Belém. No ano seguinte, mudou-se para o Studio de Dança Djane Monteiro e participou de dois espetáculos: O reino encantado dos sonhos, e Layla em... Os segredos e a horta mágica. Logo após, foi para a escola Arte e Movimento em Belém. Nesse período conheceu professores de outras cidades e estados que o apoiaram.


Na adolescência, Bruno ficava fora de casa das 17h30 às 20h e dizia apenas que estava tendo aulas, mas seu pai não sabia que eram de dança. Sua mãe, Ita, sabia e o apoiava imensamente. "Desde criança ele sempre gostava de dançar, ouvir música. Ele cresceu e sempre organizava eventos e brincadeiras de dança com os colegas", conta ela. Porém, jamais imaginou que seu filho sairia da cidade por causa da dança.


Em 2017, buscando se profissionalizar, Bruno viajou para Belém e fez curso técnico de Intérprete-criador em Dança na Universidade Federal do Pará. “Fui pra fora por questões de oportunidades e cursos que, infelizmente, nossa cidade e estado ainda não têm”.


Estilo de dança de Bruno Cantanhede é fruto de muito trabalho coletivo e dedicação. (foto: divulgação)


Durante o curso, realizou com seus colegas o espetáculo T.R.A.N.S.E., em que, nas suas próprias palavras, “experimentou o sagrado na dança, o trânsito entre o individual e o coletivo, técnica e expressão, vida e pós-vida, materialidade e espiritualidade”. Encenou também E amanhã?, que abordou a resistência frente a discursos intimidadores de líderes governamentais.


Carreira intensa


Em sua estadia em Belém em 2017, Bruno Cantanhede participou do Ateliê Coreográfico, criado pelo artista-pesquisador Jean Gama, que o dirigiu e coordenou com Rosângela Colares, Mayrla Andrade e Feliciano Marques, artistas, professores e pesquisadores da área da dança na capital do Pará. O projeto resultou no espetáculo Aquilo que se apronta.


No segundo semestre daquele ano, foi convidado por Rosangela Colares a integrar o Coletivo Umdenós, espaço criado para artistas pesquisadores em dança contemporânea com interesse em produzir arte. “O coletivo me deu oportunidade de conhecer várias coisas no mundo da dança e ter esse olhar mais profissional enquanto artista, de me afirmar artista. Até então eu não me afirmava artista, eu dizia que era apenas um bailarino”. Foi lá, longe de casa, que Bruno estruturou a sua carreira profissional.


Seguindo um ritmo constante, participou do espetáculo Ânima trama, obra desenvolvida em 2016 como base para a pesquisa de doutorado de Rosangela Colares, que ganhou o prêmio Seiva de Pesquisa e Experimentação, fomentado pelo governo do Pará. Em 2019, o espetáculo participou da Circulação Sesc Amazônia das Artes, viajando por 10 estados da Amazônia Legal.


Espetáculo Ânima Trama permitiu a Bruno Cantanhede a levar sua dança para estados da floresta amazônica. (foto: Valério Silveira)


Em 2020, estreou junto com o Coletive Umdenós uma obra chamada Por aqui, em meio ao auge da pandemia do Covid-19. Essa crise sanitária provocou algumas medidas preventivas de segurança em prol da saúde pública, entre elas o isolamento social, em que a população num geral foi orientada a ficar em suas casas para impedir a proliferação do vírus.


Com essas mudanças no estilo de vida cotidiana, o Coletive propôs a criação de uma dança que trata da contraposição vivenciada pelos três artistas-membros. Realidade que se localiza entre a normalização da vida como fuga do perigo eminente e o isolamento social, angústias, medos e acima de tudo a preocupação consigo, com seus familiares e amigos e com suas cidades.


Apesar de serem uma família de origem humilde, os pais de Bruno sempre fizeram de tudo pelo filho e o ajudam a se manter em Belém para se qualificar como artista. Desde cedo o bailarino já manifestava a sua vocação e dizia que, se estudasse a dança, poderia tornar-se um artista e viver de sua arte.


Visibilidade


Bruno observa que a dança está cada vez mais visível por causa das redes sociais. O fitdance, zumba e outros gêneros voltados para o bem-estar corporal, ajudaram na junção das pessoas e a dança como algo mais aceitável para a sociedade. Mas quando se trata da dança contemporânea ou mesmo do ballet clássico, é comum enfrentar os termos pejorativos e homofóbicos. “As pessoas colocam esse filtro da sexualidade em quem pratica a arte antes mesmo de saber o que ela pensa, ou qual o trabalho dela, principalmente com quem faz dança”, ressalta.



Em Imperatriz, segundo informa Bruno Cantanhede, não só o número de homens, mas de mulheres também é escasso no universo do ballet clássico. Esse fenômeno é motivado, como acredita, pela falta de investimento na cidade. De modo geral, a dança é vista como um hobby, algo para se passar o tempo, mas o bailarino pensa diferente.


“Enquanto tivermos artistas em Imperatriz eles devem ser valorizados de alguma forma. Até porque eu acho que a cultura move a cidade, sabe? A cultura move tanto financeiramente... quanto em outros aspectos”.


A dança contemporânea que Bruno pratica é algo mais livre, sem movimentos obrigatórios. Tudo pode fazer parte da coreografia, mesmo os objetos das cenas, os espaços. Diferente do ballet, que tem regras a serem seguidas. Por isso, o artista prefere o estilo mais livre, ao mesmo tempo que percebe como o ballet clássico o ajudou a compreender melhor seu corpo e postura.


O artista tentou fazer outros cursos, seguir outras profissões, mas nunca foi adiante. Sempre acompanhando o ritmo da dança, agora está fazendo especialização técnica em Dramaturgia. Pontuando o que sua mãe contou, a profissão só é bem-feita quando a pessoa realmente ama o que faz, e ele o faz muito bem. "É prazeroso ver o filho da gente fazendo o que realmente ama, o que gosta", pondera Ita.



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