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Os passageiros

Uma viagem reflexiva pelas vivências efêmeras


Solange dos Santos Oliveira

Ilustração: Maria Eduarda Santos @potato_nap


É de manhã, mais ou menos 11h30. O ônibus já está prestes a passar. Então pego o último biscoito de dentro do armário e saio apressada. Da minha casa até a parada são três quarteirões. Corro, corro, e fico sem fôlego. Paro por um breve instante. De longe dá pra ver a barraca de comida caseira, uma pequena casa na esquina da rua, feita de madeira com alguns desenhos e a descrição dos pratos do dia. Eu me pego olhando para esse cenário pela milésima vez. Mas desperto dos meus pensamentos com o barulho do motor do ônibus. Ele para, eu entro, ele sai. Percebo que não há mais cadeiras livres no fundo, e me acomodo no banco atrás do motorista. Mais à frente, uma senhora bem idosa entra e cedo o meu assento para ela. Acabo ficando parada ali mesmo.


Em seguida, surgem vários alunos do ensino fundamental da escola Tocantins. À medida que vão entrando no ônibus, eu vou afastando, afastando, mais e mais para o fundo. Até que, por algum motivo, fico ali inerte. Sinto um puxão no cordão do meu casaco verde. Neste momento, fico irritada, olho para baixo. É uma linda menina de cabelos negros e belos olhos castanhos. Personificação da felicidade, nesse momento ela se torna a criança mais alegre do mundo, apenas pelo prazer de balançar um cordão. Mas a mãe a impede de continuar na brincadeira. Ao olhar para pequena, me pego sorrindo e lembro que viver a infância é exatamente isso: sentir-se feliz com as pequenas coisa.


Uma mistura de sentimentos vem sem avisar, paz e inquietação. Percebo que a infância é efêmera. A melancolia surge em forma de memória reprimida. Coisas que jamais irão voltar. Uma lágrima quer escorrer de meus olhos, então a seguro. É preferível permanecer com aquele belo sorriso em minha lembrança. Deste jeito, a minha última memória será a mais feliz de todas, por mais que seja passageira.


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