Os traços do menino Pedro
Ilustrador Pedro Bezerra é autodidata e permaneceu artista depois de crescer
Juliana Carvalho
Quando criança, é normal que se divague sobre o que ser no futuro, de astronauta a ator ou atriz de novelas as opiniões estão sempre se modificando. Não foi assim com Pedro Gabriel Bezerra Silva, que desenha desde sempre e não tem lembranças de querer trabalhar com outra coisa, senão com arte. O pintor Pablo Picasso uma vez disse: "Toda criança é artista. O problema é como permanecer artista depois de crescer." Pedro soube como.
Nascido em 2001, em Imperatriz, no Maranhão, o jovem sempre quis ser ilustrador. Assim que chegou ao início de sua adolescência, o desejo de viver de arte se tornou concreto. Começou a estudar e tratar seus momentos desenhando com mais seriedade. Um verdadeiro autodidata dos desenhos, já que nunca cursou nada relacionado à ilustração. Pedro é um rapaz de sorte, pois conta com o apoio e incentivo de seus pais, que enxergaram o potencial do filho.
Apesar de seu nível como ilustrador ser bom, Pedro nunca havia feito nada de caráter profissional até 2019. Por indicação de um conhecido e por apreciar o trabalho do jovem ilustrador, o escritor maranhense Raphael Coutinho fez o convite para que Pedro ilustrasse seu livro O garoto chamado Tony Louco (2019) e a sequência, Onde está o Tony Louco (2021). Quando o artista, na época com 18 anos, ganhou essa oportunidade, ficou exultante, feliz e entusiasmado pela chance que transformava suas ideias e sonhos em algo real.
“É do tipo que muito ouve e pouco fala”, diz Maria Eduarda Araujo Lima sobre o amigo. O garoto possui uma paciência invejável para lidar com pessoas e situações, e é extremamente apaixonado pelo que faz. Quem compartilhou com ele seus anos de escola, do Ensino Fundamental ao Médio, o viu com seus fones no ouvido escutando alguma música dos anos 1960, 1970, suas favoritas e, com um caderno e lápis em mãos, desenhando a cena de algum filme de ficção científica que mais chamou sua atenção.
Não era um mau aluno, costumava tirar boas notas, mas entre estudar para qualquer matéria da extensa grade curricular do Ensino Médio do Instituto Federal do Maranhão e concentrar-se para aprimorar os traços, certamente, optava por desenvolver a segunda opção.
Para ele, desenhar é sinônimo de satisfação, é o momento no qual mais se sente bem. Ficar horas desenhando não o cansa, pelo contrário, o acalma. “É como um remédio. Eu posso tá com dor de cabeça, se eu for me concentrar e desenhar, passa”, conta Pedro.
Estilo do artista transita entre diferentes temas: da antropoformização de figura medieval às cenas cotidianas.
Seus desenhos dizem muito sobre si. Pedro costuma desenhar o que mais lhe atrai e sua fonte de inspiração geralmente vem das mídias que costuma consumir, como filmes de ficção científica, drama e terror, de jogos e de músicas. Questões cotidianas, aleatórias, também o incentivam muito a desenhar.
“Às vezes eu tô numa rede social quando, do nada, vejo uma foto que me inspira bastante e quero fazer uma arte daquilo. Ou eu vejo alguém na rua com uma certa roupa e tenho uma ideia”, diz Pedro.
Contudo, sempre que procura por uma ideia, busca suas maiores referências, como artistas clássicos, tais como Claude Monet, Caravaggio, Van Gogh, Leonardo da Vinci e também, contemporâneos, como, por exemplo, Alex Ross, o coreano Kim Jung Gi, Stan Prokopenko, Andrew Loomis e o brasileiro Guilherme Freitas.
Ilustração inspirada na série Doctor Who.
Aqui o ponto de partida foi a série Twin Peaks.
Memes também são fonte para as criações: o poderoso gatão nos traços de Pedro.
Leonardo da Vinci com o desenho renascentista, na obra O homem vitruviano, retratou com perfeição o que Pedro mais gosta de desenhar: a figura humana. “Tem muita riqueza de detalhe ali que se você não tiver o olho treinado você nem percebe, sabe? Eu acho muito incrível quem adquire a habilidade de reproduzir o corpo humano em detalhe, sem estar só fazendo uma cópia, mas entendendo a estrutura, a anatomia. Tudo pra dar vida aquela forma que você imaginar, acho fascinante”, revela o artista. É um desafio prazeroso para esse ilustrador tentar exprimir com a proporcionalidade necessária e certo nível de perfeição as formas humanas.
A figura humana é uma paixão do ilustrador.
Com relação aos tipos de mídia artísticas com as quais trabalha, a digital e tradicional, ele menciona que as duas mídias têm vantagens muito específicas. A melhor coisa que acha do digital é a praticidade que existe para lidar com as ferramentas, dá pra pular várias etapas não fundamentais, economiza muito tempo.
Quanto à tradicional, existe muito mais variedade de textura, de como se sente o lápis no papel, ou o pincel, o marcador. Mesmo afirmando que a mídia digital é essencial para seu trabalho, ele não consegue esconder a preferência.
“No tradicional você tem aquele senso de algo único que você cria. Aquele é o único desenho original que você fez. E acho que quando é um arquivo no computador não tem esse valor todo,” analisa Pedro.
A Covid-19 veio como uma avalanche sobre todo o mundo, porém o jovem ilustrador diz que, ao menos em relação ao seu ofício, não foi tão afetado, pois ele trabalha em casa. Na verdade, durante esse tempo de isolamento, produziu mais, com mais tempo livre para consumir entretenimento, o que aumentou a inspiração.
No período da quarentena, seu processo de criação é basicamente assistir filmes e tirar prints de cenas que acha visualmente interessantes. A partir desse ponto as ideias vão surgindo e ele segue à procura de outras referências para que surja algo original. Pedro costuma trabalhar dentro do seu quarto, principalmente se estiver fazendo alguma arte digital, uma vez que utiliza o computador. Mas, se o desenho for tradicional, lápis e papel, não importa o lugar da casa que esteja, ele estará desenhando.
Os principais meios de divulgação de seus trabalhos são pelas redes sociais. Através de posts de suas artes em seu Instagram (pedrogbs_art) e twitter (@pedro_gbs_) ele possui, somando as duas redes, cerca de mil seguidores. Por enquanto, não está trabalhando em nenhum projeto novo. Pedro estuda a possibilidade de entrar para uma faculdade e cursar artes visuais. O garoto quieto, tímido e paciente deseja se especializar ainda mais no que mais gosta de ser, um artista da ilustração.
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