Que nem caranguejo
Depois de muito ir e vir, Maria do Socorro diz que não sai de Imperatriz "nem com reza"
Aylla Coelho Vanessa Carvalho
“Ih, já faz tempo demais. Isso foi lá em 1989, por aí”. Maria do Socorro voltava a morar em Imperatriz, pela terceira vez (e última). Veio sozinha, deixou dois filhos em Rio Maria, no Pará, para acompanhar os estudos do mais velho aqui na “cidade grande”, porque lá só havia escola até o Ensino Fundamental.
(ilustração: Marcos Prohmann e Yara Medeiros)
Pense numa coisa diferente: era Imperatriz, uma cidade gigante, ela tava perdidinha, fazendo jus ao nome. Desembarcou na antiga rodoviária, pegou um táxi, pagou em cruzeiros. Fez um acordo com o taxista, porque ela não gosta de ver o taxímetro rodando, dá uma agonia. Desceu na casa da sogra, onde o filho já estava morando há um tempo, com a vozinha paterna.
Mas tu achas que ela trouxe o que precisava? Pois está enganado. Deixou tudo lá, outros dois filhos, o marido e a mudança. A valença foi que achou um caminhoneiro que vinha lá de Rio Maria para Imperatriz e precisava de algumas coisas para colocar no caminhão recém-fabricado, para que a carroceria não fizesse muito barulho. Isso foi um MILAGRE, ela que disse, frisando bem a palavra.
Dona Maria pagou bem baratinho e o caba trouxe as coisas dela. O marido não, este ficou lá por mais sete anos e só veio embora porque o patrão dele morreu, se não fosse por isso ia tá lá até hoje.
Para comprar uma casa em Imperatriz, precisou acontecer outro milagre. Ela não queria casa pequeninha não, comprou o terreno vizinho também, depois de muita luta pra negociar, mas conseguiu. É tanta história que dá pra fazer um filme.
Essa foi a terceira e última vez que ela se mudou para Imperatriz. Que nem caranguejo, do Pará para o Maranhão e do Maranhão para o Pará. Mas agora ela aquietou, a família cresceu e hoje já tem 67 anos, não sai de Imperatriz "nem com reza".
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