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Reinvent’Arte: ensino e protagonismo negro

Grupo de teatro completa 10 anos conscientizando estudantes com arte


Ana Karla


“O teatro é uma arte que contribui para esse processo de fazer leituras de mundo. Sempre é um processo de reinvenção”, acredita o ator e diretor da companhia de teatro Reinvent’Arte, Domingos Almeida. O grupo completou, em setembro de 2023, 10 anos de história, e é resultado de uma parceria do Centro de Cultura Negra – Negro Cosme com o Centro de Ensino Urbano Rocha. Para Domingos, quando o teatro trabalha com fatos reais e os transporta para os palcos, acaba conferindo sentido à realidade. A principal missão da companhia é levantar questões como a luta contra o racismo e o protagonismo negro em peças teatrais representadas por estudantes.


Teatro na escola beneficia o estudante em vários aspectos. (foto: divulgação)


Há 21 anos fazendo parte da coordenação da escola Urbano Rocha, na qual é gestora há sete, Gizelda Pereira do Nascimento explica os ganhos para o ensino e educação dos estudantes na criação da companhia. “O teatro na escola beneficia e ajuda o aluno a se desenvolver. O aluno que se envolve com o teatro aprende a ler, a se expressar oralmente, a gesticular. E ele também tem o momento de reflexão sobre as temáticas que estão sendo desenvolvidas na pauta do texto teatral, ajudando no empenho cognitivo do aluno".


A parceria foi firmada em 5 de setembro de 2013, quando se estabeleceu na escola uma oficina de teatro como atividade permanente para os estudantes. Os ensaios, oficinas e a preparação dos espetáculos são realizados na sexta-feira, no último horário de aula. Atualmente com 10 participantes, sendo seis meninas e quatro meninos, com idade de 14 a 17 anos, a companhia já realizou dezenas de apresentações na região. Os espetáculos marcam não só a vida dos telespectadores, mas principalmente a dos jovens atores, que a partir da prática do teatro na escola, descobriram uma nova paixão.


Peças do grupo debatem o protagonismo negro. (foto: divulgação)


Ana Christina Mendes Santana, uma das atrizes, define a companhia com parte constituinte de sua história. “Os momentos foram muito marcantes, cada apresentação foi diferente uma da outra, marcou uma parte de mim. Depois de ter apresentado para várias pessoas uma peça, depois que subi no palco, isso mudou completamente minha forma de enxergar a vida”, revela.


A gestora Gizelda ressalta a importância da criação da companhia de teatro escolar Reinvent’Arte, pois transforma o ensino tradicional: “Através das peças teatrais, os alunos se tornam atores em cima dos palcos, podem levar debates importantes para dentro da sociedade, além do entretenimento, criando alternativas de melhorias dentro do ambiente escolar, onde existem várias queixas sociais, como por exemplo, o racismo e ausência de protagonismo negro juvenil”.


Temas como o racismo estrutural e a ausência de protagonismo negro juvenil são comuns nos espetáculos da companhia Reinvent’Arte. “Um dos objetivos do projeto é discutir a temática negra, combater o racismo por meio do teatro. Como uma pessoa negra, isso me move, tornar o teatro um instrumento de combate ao racismo”, ressalta Domingos Almeida.


O diretor frisa que busca privilegiar que os atores e as atrizes negros e negras sejam os protagonistas das peças, para serem vistos como referência no mundo artístico, utilizando o teatro como instrumento de transformação social e de combate ao racismo. “Por meio da companhia de teatro os estudantes e as estudantes conseguem ter uma dimensão de sua identidade negra. Se reconhecerem como pessoas negras, para mim, é um dos pontos mais importantes que nós trabalhamos.”

Estudantes se sentem transformados com o projeto. (foto: divulgação)


Ao longo de 10 anos de existência, mais de 200 estudantes já fizeram parte da companhia de teatro. “Tinha um receio de falar para muitas pessoas. Mas depois dessa experiência, e tudo que eu vivi, não preciso mais ter medo de tudo, e isso pode acontecer também na vida das pessoas que estavam assistindo a peça. Cada pessoa é marcada de uma forma diferente”, acredita Ana Christina.


O papel da escola se ampliou, tendo agora como função ser uma ferramenta provocadora de novas ideias e visões de mundo, possibilitando aos alunos vencerem medos e obstáculos, além de estimular debates importantes. “A gente pensa a escola como lugar de escolarização, de alfabetização, de formação. Mas acho que a escola provoca e desperta, ela é responsável por provocar e despertar o desejo nos estudantes que estão ali pra uma coisa maior”, reforça Domingos.


A Companhia de Teatro Reinvent’Arte se apresentou em novembro de 2023, na cidade de Alto Alegre do Pindaré – MA, no XIX Festival de Teatro. “Ali eles estão apenas passando por um processo, que vai culminar mais adiante em um curso superior, no exercício profissional que a pessoa escolher. Então acho que a escola abre um leque de possibilidades e oportunidades que os alunos vão agarrando”, explica Domingos.


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