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Companhia Ruah: o sopro na arte sacra

Grupo de teatro, música e dança completa 10 anos inovando em espetáculos religiosos


Ester Nogueira


Do hebraico, a palavra “Ruah” significa “o sopro do espírito”. A Companhia de Artes Ruah, que contempla 10 anos de música, dança e teatro, quer ser o sopro na arte sacra de Imperatriz. São 80 participantes que produzem até um espetáculo por ano. O grupo começou a pedido do então bispo da diocese de Imperatriz, em 2012, D. Gilberto Pastana e se propõe a ministrar cursos intensivos de teatro e dança sacra. A direção artística é de Victor Sabbag, formado em Administração de Empresas e “um apaixonado pelo teatro musical”.

A Cia de Arte Ruah surgiu com objetivo de produzir arte sacra para a comunidade católica. A primeira apresentação ocorreu no Teatro Ferreira Gullar, em Imperatriz - MA, com o musical: Maria, senhora da luz. Uma Moção de Aplauso e o convite do governo do Estado do Maranhão para apresentação no teatro Arthur Azevedo, em São Luís, são alguns dos “frutos” colhidos em dez anos de existência da companhia.

“Paixão avassaladora”. Victor Sabbag descreve desta forma o seu sentimento sobre o teatro musical. Ele diz que a inspiração para produzir os espetáculos vem de outros musicais e de cursos livres de teatro feitos na cidade de São Paulo. Mas também de um profundo mergulho histórico e cultural na vida do personagem a ser retratado no palco.

Sabbag faz questão da qualidade técnica e competência na realização do evento. “Mesmo sendo uma companhia católica, que muitas pessoas menosprezam por achar que o segmento religioso não tem profissionalismo, a gente veio pra calar a boca de muita gente dentro de Imperatriz, né?”, afirma.

Victor destaca que o processo de produção do musical inicia com o aval do bispo da diocese, hoje, D. Vilsom Basso. Em seguida, cada detalhe do espetáculo começa a ser construído com a equipe. Música, dança, peça, tudo é pensado com esmero, os ensaios da Cia de Arte Ruah duram pelo menos três meses.

Para garantir a qualidade do musical tão frisada pelo produtor, é preciso ir aos detalhes históricos. "No século XX, o esmalte era vermelho, a cor do carro da Ford era vermelha, cigarro, uísque, charuto, particularidades que não podem passar despercebidas".

Victor costuma promover uma noite cultural para aproximar os atores da cultura de seus personagens. “Então é feito um estudo dos costumes, da enculturação daquele povo, daquela cidade, do país. Eu faço tão a fundo que muitas vezes eu levo para os atores o país que a gente está contando”, explica o diretor artístico.

Amor, orgulho, realização pessoal, são sentimentos expressados por ele ao se referir à Cia de Arte. “Contribuir com a cultura de Imperatriz dá força para que, a cada ano, o espetáculo venha com novidades”, afirma. O corpo de atores da Cia de Arte Ruah é formado por pessoas de segmentos diversos de Imperatriz, tais como fonoaudiólogos, advogados, estudantes, professores, administradores, contadores e médicos.

Os atores precisam conciliar a rotina de suas profissões com a dos ensaios. Para garantir o espírito de profissionalismo, são oferecidas bolsas para os bailarinos e cursos livres de teatro. “Porque a gente leva um espetáculo de muita qualidade musical, técnica, com efeitos especiais. A maior parte de nosso material vem de São Paulo”, ressalta Victor Sabbag.

A professora de inglês, Fernanda Cali, de 20 anos, compõe o corpo de baile e afirma que, mesmo com a correria dos ensaios, fazer parte da Cia de Arte é uma experiência única. “A gente começa ensaiar três, quatro meses antes, vai atrás de coreógrafo e de lugar para ensaiar. Temos que estudar o roteiro com o pessoal pra saber em que momento vai entrar”, explica Fernanda.

Já o médico João Victor atua no Ruah como cantor, bailarino e ator. Ele faz questão de frisar que sua maior dificuldade está na dança, por não ter tanta experiência. “Nunca fiz aula de dança”. Mas a aptidão por cantar e atuar acaba por balancear as três performances. “A experiência é muito boa, principalmente quando junta os três, né?”, relata João.


Saindo da caixa

Por ser católica, a cada musical a Ruah apresenta a vida de um santo diferente. Para inovar o enredo, ousadia, técnica e prática são ferramentas necessárias. O público quer se surpreender, este é o desafio a cada ano. “Pra mim, como diretor, sempre quando eu vou escrever um musical tento pensar o que ninguém vai pensar. É tentar sair da caixa, é por isso que muita gente que vai, senta ali e assiste o musical da Ruah se choca”, afirma Sabbag.

O musical Confissões de Santo Agostinho (2017), é um exemplo dessa ousadia que o produtor destaca, já que relata a vida de um homem que, antes da santidade, foi ateu, beberrão e dado às mulheres. “Agostinho se passa muito dentro de um prostíbulo. E sabe que tudo isso são trabalhos que chocam, né? Por ser um musical religioso. Então procuro sempre ir por vias que as pessoas não vão”, justifica.

A ideia principal, segundo Victor, é poder alcançar pessoas que não são da esfera cristã e quebrar os paradigmas que rodeiam a arte sacra. “Mesmo quem não tem religião, mas assiste pela arte, pela cultura, muitas vezes se identifica com a história daquele santo e passa a admirar, que é nosso objetivo. Se a pessoa sai de lá enxergando na vida daquele santo o exemplo, pra gente nossa mensagem foi passada”, conta o produtor, emocionado.

Victor faz questão de enfatizar que a contextualização da vida do santo na atualidade é evidenciada nas produções da Cia de Arte Ruah. Para os católicos, a mensagem é cristã e aos apreciadores, simboliza uma reflexão sobre o transcendente. “E muitas vezes nós vamos deixando de olhar esses pequenos momentos com a família, com os amigos. Agostinho traz justamente esta mensagem: de que a busca da felicidade é eterna”.



De volta à cena

Em dezembro de 2020, foi grande o desafio de encenar o espetáculo A vida da beata Chiara Luce de forma virtual. Foi o momento de concretizar as expectativas alimentadas ao longo de meses em quarentena vividos pelos membros da Cia de Arte.

Ansiedade, nervosismo, alegria e emoção foram os sentimentos descritos por Juliana Queiroz, 23 anos, acadêmica de Enfermagem, ao lembrar-se da rotina do musical de anos anteriores. Há quatro anos na Cia de Arte, ela faz parte do corpo de baile e destaca que, devido à Covid-19, mudanças foram necessárias, como, por exemplo, a transmissão on-line direto do teatro Ferreira Gullar.

Seguindo os protocolos sanitários, com uso de máscaras e álcool em gel, a Cia de Arte Ruah manteve reuniões on-line e ensaios com grupos de atores divididos em dias diferentes no período mais intenso da pandemia.

No dia da apresentação, em 2021, promoveram um espetáculo fechado, só mesmo a Cia e a produção restrita. “Somos um grupo de 80 pessoas e no dia estivemos em 45 dentro do teatro. Junto com os técnicos de luz e filmagem, era uma faixa de 50 pessoas”, lembra Victor Sabbag.

Em tempos de pandemia, o jeito foi se reinventar e deixar que o sopro do espírito do Ruah continuasse. Mas em novembro de 2021 já foi possível retornar às atividades presenciais com o musical O grito dos oprimidos, baseado na história de Santa Dulce dos Pobres.


Em um post no Facebook após as apresentações, o grupo aparece reunido, se confraternizando e manda uma mensagem de agradecimento: "A alegria e a comunhão de viver como companhia nos aproxima ainda mais do mistério do verdadeiro Amor, pois como já dizia nossa Dulce: 'Sempre que puder, fale de amor e com amor'".


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