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Transformando o “inútil” em arte

Professor e artista visual de Santa Helena dá forma ao que se joga fora

Lia Amaral

“Vejo um tronco de árvore e já sei o que posso fazer com ele”. Professor de Artes e artista visual desde os 20 anos, Esmeraldo Pavão, hoje com 78, acredita que desenvolveu “a fundo o seu trabalho manual trabalhando nas escolas”. Para elaborar as suas esculturas, ele utiliza materiais reciclados. Ele vê potencial no que as pessoas jogam fora: isopor, jornais, calhas de bicicleta e espelhos quebrados.


Esmeraldo em seu sítio, onde se inspira. (foto: reprodução Facebook)


Esmeraldo nasceu em São Roque, um povoado da cidade de Santa Helena, banhada pelo rio Turiaçu e localizada na Baixada Maranhense. Ele fez questão de mostrar cada canto de sua casa para a reportagem. Um quadro localizado logo na entrada, feito com tampas de garrafa pet, azulejos quebrados e isopor coberto por papel laminado, já indica as características da sua obra. Religioso, mantém em seu quarto um grande altar que construiu com materiais reciclados. “Eu nunca tive dificuldade em me inspirar, pois acredito que é um dom que Deus me deu”, comenta.


O artista confirma que a maioria das suas obras vem da transformação. Conta que um dia estava no seu sítio, e viu um trabalhador cortando uma árvore. Percebendo aquele pedaço de madeira, pediu para lhe darem o tronco e esculpiu uma coruja. “Meu trabalho demora pra ser finalizado. Tudo depende muito da obra, quando é esculpido madeira, é claro que terá que envolver mais tempo, porém isso não é uma dificuldade”, explica.


Mesmo que decidir ser artista não seja a primeira escolha para as maioria das pessoas que nascem na região, a família sempre o apoiou na vocação. Após uma infância humilde no povoado distante, Esmeraldo deixou a realidade da maioria dos seus colegas de escola, que se tornaram pescadores e conseguiu se estabelecer na cidade de Santa Helena com seu próprio esforço.


Sua paixão sempre foi criar, mas o sustento veio da profissão de professor. Lecionando a disciplina de Artes para estudantes das redes municipal e estadual desde 1982, acabou percebendo a oportunidade de estimular nas crianças e jovens o talento que tem dentro de si. “Eu já formei artistas sendo professor. Uma ex-aluna que hoje mora na França, faz cestas com papel reciclado. Ela sempre vem me agradecer por todos os ensinamentos que lhe dei”, lembra Esmeraldo.


No seu sítio ele tem a tranquilidade para pensar e se inspirar melhor. Lá ele se sente mais conectado com a natureza, pois Santa Helena, mesmo tendo apenas 42 mil habitantes, é uma cidade que tem “muita zoada de carros e motos”. Seu maior sonho é que haja mais apoio à cultura e que suas obras sejam reconhecidas ainda mais “pelas pessoas de cima”, que estão no poder e detém a maioria dos recursos financeiros.

Esmeraldo expressa amor em sua arte (foto: reprodução Facebook).


Esmeraldo lamenta nunca ter recebido financiamento de prefeitura e diz que muitas vezes tem que investir nos seus projetos com dinheiro do próprio bolso. Essa situação o deixa um pouco desmotivado, já que gostaria de realizar muitos projetos artísticos com as crianças de Santa Helena. Mesmo assim, suas obras, elaboradas em sua maioria sob encomenda, já foram expostas na capital São Luís e no estado de Roraima, afirma, com orgulho.

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