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Tranças de beleza e resistência

Estilo africano eleva autoestima e reafirma identidade e liberdade


Guilherme Carneiro


Penteados com tranças na cultura africana refletiam posição social, status, etnia e crença. Na atualidade, a sensação por parte de quem usa o cabelo com tranças ainda é de expressar as lutas, a beleza e a identidade negras. André Zimbawer (foto), 23 anos, estudante de Jornalismo, relata que como pessoa negra, nunca foi estimulado a se sentir bonito e que o seu processo de identidade é resultado de uma construção. “As tranças me deram um certo poder, de me olhar no espelho e me ver bonito, de dizer: ‘Ok, eu gosto disso’”, relata o dono de longas tranças de cor roxas, que já foi convidado para ser modelo por conta de seu cabelo.

Tranças ajudam a construir a identidade não-binária de André. (foto: arquivo pessoal)


Para André, esse visual vai além das questões de negritude, serve também como um ato de liberdade e conexão com sua identidade de gênero. André é não-binário e acredita que as tranças o ajudam a externalizar essa identidade que está sendo construída aos poucos.


Já Gizele Brito, 26 anos, proprietária da “Cabelos & Cia” em Imperatriz, loja especializada em cabelos orgânicos, perucas e tranças, se via pressionada a fazer alisamento para se sentir bonita.


“Eu fui ensinada que o cabelo liso era o bonito, porque é o cabelo que todo mundo usa, que as pessoas da televisão usam. Então desde nova comecei a alisar, mas conforme ia alisando, ele ia também se desgastando, até que resolvi parar.’’


Ela sentiu as potencialidades comerciais quando assumiu o cabelo natural. Foi testando novos estilos que conheceu as tranças.


Gizele sente-se grata por trabalhar com algo que impacta a vida das pessoas. (foto: Guilherme Carneiro)


A ideia da loja surgiu em meio ao seu processo de transição capilar. Como em Imperatriz não havia pessoas que colocavam tranças, Gizele buscou aprender e percebeu naquele universo de cabelos a oportunidade de negócio. Desde 2015, quando a “Cabelos & Cia” começou, a empresária tem notado que o ramo está se expandindo.


Colocar tranças exige um tempo considerável, o que permite criar vínculo com as clientes, que às vezes chegam a se tornar amizades. Para a empresária, essa popularização ajuda a combater os olhares de indiferença. “Me sinto grata por trabalhar com algo que tem impacto sobre a vida, a identidade e autoestima das pessoas.”


Amigas celebram efeito positivo e a praticidade das tranças afro. (foto: Guilherme Carneiro)


Aline Xavier e Alicy Texeira, de 25 e 20 anos, ambas estudantes de jornalismo, viram nas tranças um modo de deixar a química de lado. O cabelo de cultura africana surtiu efeito positivo na autoestima delas. Enquanto Aline diz amar a praticidade das tranças, para Alicy elas influenciam não somente na aparência, mas também no humor, na atitude e postura.


As duas já se viram tendo que lidar com estereótipos e perguntas carregadas de ignorância a respeito das tranças. Aline afirma que prefere ignorar. Alicy se incomoda e às vezes responde. Para as estudantes, as tranças são uma forma de reafirmarem sua beleza enquanto mulheres negras.


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