“Um som tão genuíno que vem do coração”
Regente Maxwell Silva detalha a vocação social da Bamuda, banda de Davinópolis
Karla Justino
Iany Santos
Regente Maxwell Silva comanda a Bamuda: "Projeto é um complemento na formação dos jovens." (foto: reprodução Instagram)
Com o slogan “mais que uma banda, uma família”, a Banda Municipal de Davinópolis (MA), a Bamuda, é tetracampeã do Campeonato Maranhense de Fanfarras e Bandas. Estes títulos fizeram com que a Bamuda fosse convidada para tocar em vários lugares e eventos, como o Festival BR-135, em sua edição de 2019, em Imperatriz. Ativa no Instagram (bamuda_davinopolis_ma), com cerca de 5,5 mil seguidores, a consagração pública ocorreu em 2018, quando venceu cinco títulos estaduais: melhor regente, mor, corpo coreográfico, banda de percussão e banda marcial.
Hoje a Bamuda é classificada como uma banda marcial composta por 110 componentes, divididos em instrumentos de percussão, de sopro e pelo corpo coreográfico, composto por moças e rapazes que fazem coreografias. Em entrevista ao Zine Sibita, o regente Maxwell da Lima Silva classifica a Bamuda como um projeto social, que incentiva a participação de alunos da rede municipal e estadual de ensino. O grande objetivo, segundo detalha, é garantir às crianças e jovens uma “expectativa de vida melhor, incentivar o trabalho em equipe, a camaradagem, a disciplina e melhorar a convivência com a família”.
"Temos muitas histórias de alunos que começaram na banda e hoje são músicos profissionais." (foto: Matheus Silva)
Zine Sibita: Qual é a história da Bamuda?
Maxwell Silva: O grupo funcionava informalmente há 17 anos e era conhecido como a Fanfarra Municipal de Davinópolis (Famuda), coordenada na época, pela professora Luciene Santos Maia. Foi oficializada pela Lei Municipal nº 175 no ano de 2013, na gestão do prefeito Ivanildo Paiva. A banda nasceu com a função de ensinar, difundir e preservar a música mediante apresentações públicas gratuitas, um projeto social mantido 100% pela prefeitura municipal de Davinópolis, para participações em festividades cívicas do município e aparições e competições fora da cidade. Para início do projeto, a prefeitura fez a compra de 28 instrumentos, e, recentemente, na gestão de Raimundo Coquinho, entregou uma Sala de Musicalização, que fica nas dependências da Secretaria Municipal de Educação. Totalmente forrada, a sala conta com revestimento acústico, climatização, wi-fi, e material didático-pedagógico. Este ano a banda recebeu o novo uniforme, belíssimo, que veio de Itaré, SP, para agraciar mais ainda as apresentações com a sua indumentária completa. O projeto atende 70% da classe estudantil da cidade, sejam eles da rede municipal ou estadual de ensino ou até mesmo quem está cursando a faculdade. E 30% são vagas disponíveis para quem faz parte da comunidade da cidade, que já concluiu os seus estudos, admira o projeto e quer participar.
ZS: Como se dá a atuação social da banda Bamuda?
MS: O projeto pretende ser um complemento na formação dos jovens davinopolitanos. Não é simplesmente pegar um instrumento e tocar. Mas, sim, fazer parte do currículo escolar e ajudar no desenvolvimento do aluno, como coordenação motora, socialização, esses atos benéficos para os jovens. Outro quesito é a questão da ressocialização: conversar, conhecer novas pessoas. No século que estamos, período pandêmico, são comuns os casos de ansiedade, depressão. E a música tem esse papel relevante para colaborar com a comunidade, ajudar no social, na escola e também na ressocialização do jovem. Tínhamos muitos alunos que estavam fora da escola e com o trabalho de musicalização a gente colocou como meta que eles voltassem a estudar. Eles começaram a ver como é importante ficar capacitado. É um dos quesitos que a música proporciona: fazer com que o aluno estude, pratique o seu instrumento, para se destacar em sua comunidade musical.
ZS: Temos histórias de mudanças de vida entre as crianças e jovens que integram a Bamuda?
MS: Temos muitas histórias lindas de alunos que se iniciaram na banda e hoje são profissionais da música e levam sustento para dentro de casa. Temos um aluno que hoje é músico profissional e faz parte da banda de música do 50 BIS (Batalhão de Infantaria de Selva). Hoje ele vive da música, literalmente. Conseguiu o seu emprego através da música e está levando sustento para dentro de casa por meio da música. Algo inimaginável. Iniciou o projeto de forma tímida, não imaginava que iria ter uma repercussão tão positiva na vida dele. Falar sobre a banda municipal é satisfatório, principalmente quando você vê o sorriso de uma criança ao pegar o seu instrumento, ao executar uma nota e perceber o quanto ele está sendo útil e quanto ela está desenvolvendo ao aprender um instrumento. Então nos sentimos gratos ao ver a transformação de vidas de muitos jovens através da musicalização. Eles podem ter um contato melhor com os pais, o convívio familiar melhorou. “Eu queria convidar vocês para a minha primeira apresentação”, diziam. Daí quando eu chegava nas tocatas a gente presenciava um grande número de pais acompanhando o projeto. E a gente percebeu a diferença positiva dos pais acompanhando e, principalmente, aplaudindo os filhos. Então esse projeto é importante para a nossa cidade. E para mim também, como ser humano. Muitas vezes aprendo muito mais com eles do que eles comigo. São histórias fantásticas, guerreiros que lutam para ter dias melhores. Aqueles que iniciaram o projeto desde 2015 e eram bem criancinhas, hoje já são pessoas maiores de idade, uns já trabalham com música, outros conseguiram emprego por conta de eles fazerem parte do projeto da Banda Municipal. O que serve como gasolina para a gente. Muitos tinham parado de estudar, eram envolvidos com facções e o mundo do crime e começaram a abandonar e ver como é importante a música em si.
ZS: Como ocorreram as atividades em 2020 e 2021, no auge da pandemia da Covid-19?
MS: No período da pandemia foi um ano atípico que todo universo sentiu, em todas as esferas, as perdas familiares e dos amigos que partiram. Depois do início da pandemia da Covid-19, a banda parou as suas atividades em março de 2020. Parou total, toda programação, como estudos, apresentações. Criamos uma plataforma de vídeo para as aulas remotas: eles mandando vídeo, praticando os seus instrumentos e a gente podendo ajudar com a execução dos instrumentos. Ainda assim foi um baque muito grande e naquele momento nós tivemos medo do projeto acabar de vez devido a essa situação. Mas nos mantivemos firmes, com encontros online a cada duas semanas. E no final do ano de 2020, como houve uma diminuição dos casos, houve uma etapa do campeonato maranhense em São Luís, de forma bem cuidadosa, com todas as orientações das organizações de saúde. Fomos, participamos e conseguimos ser campeões. Em 2021 retornamos as atividades presenciais com todo o cuidado, uso de máscara, uso de álcool em gel e também com distanciamento social. As aulas eram executadas fora da sala de aula para evitar qualquer problema. Aí conseguimos, aos poucos, ingressar novos alunos da maneira mais cuidadosa possível e pudemos auxiliar, pela música, a partir de uma rede de ressocialização, que eles não se prejudicassem mais na questão da educação.
Um dos projetos futuros da Bamuda é participar do Campeonato Brasileiro de Bandas e Fanfarras. (foto: Matheus Silva)
ZS: E como está a Bamuda em sua formação atual?
MS: Hoje a Banda Municipal continua com as suas apresentações. É um cartão-postal que orgulha a região Tocantina. Onde a banda já se apresentou ou se apresenta, as pessoas ficam bastante emocionadas. E o que nos alegra nisso tudo é um som que é feito por crianças, um som tão genuíno que vem do coração. É um som que chega a tocar muitas pessoas pela sensibilidade e pela simplicidade das crianças tocando seus instrumentos, que levam mensagem de paz, carinho, ânimo, através das notas musicais. Atualmente a banda participa de vários eventos, em espaços públicos, shoppings, aberturas de campeonatos de futebol de salão e campo e eventos recepcionando autoridades na cidade. Contamos com o total apoio da prefeitura municipal, que ampliou o espaço público onde ocorrem as aulas e também investiu na indumentária, a vestimenta da banda.
ZS: Quais são os projetos futuros e os sonhos da Bamuda?
MS: Pretendemos aumentar mais ainda o número de integrantes. Hoje ainda não chega a 0,1% da nossa juventude da cidade. Então queremos alcançar um público bem maior para que mais jovens tenham essa oportunidade. A música tem feito uma transformação enorme na vida deles. E um dos projetos futuros é que a gente possa representar o nosso estado no Campeonato Brasileiro de Bandas e Fanfarras, campeonato organizado pela Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras (CNBF). Para a gente é um sonho ter acesso a esse evento, principalmente com a ampliação do nosso material, do nosso projeto e ir lá representar nosso estado. Não pela questão do troféu, mas para adquirir mais conhecimento, conhecer músicos profissionais da grande São Paulo e Rio de Janeiro. Músicos que a gente só tem a oportunidade de conhecer pelas telinhas dos celulares e dos computadores, através dos aplicativos, por vídeo. E a gente quer ver eles falando como a música transformou a vida deles também, para que a gente possa aumentar esse espírito no meio de nossos jovens, na questão de se dedicar a um instrumento.
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