“Uma dança em Pasárgada”
Grupo de dança trabalha questões íntimas e sociais nos palcos e em vídeo
Luana Araújo
Espetáculo "Vagalumes urbanos", de 2017, trouxe coreografia sobre traumas sociais. (foto: Wescley Aquino)
Com um amor em comum e incondicional pela dança, há oito anos uma turma de bailarinos em Imperatriz decidiu criar um grupo independente e cheio de personalidade, que usa os espetáculos, o trabalho em vídeo e também as redes sociais para espalhar sua arte de forma poética e encantadora.
O Grupo de Danças Pasárgada tem seu nome inspirado no famoso poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira, e propõe, por meio da arte, alcançar a liberdade de um mundo melhor, mais humano e de felicidade, como nos versos: “Vou-me embora para Pasárgada/Lá a existência é uma aventura”. Para o poeta, Pasárgada era um lugar de refúgio, enquanto para os bailarinos esse local simbólico é a dança.
“O grupo nasceu do desejo de expressão artística e de continuar nossas carreiras bailarinísticas”, como conta o coordenador Thaymison Gomes, em 2014, na VIII Semana Imperatrizense de Dança. O Pasárgada fez então a sua primeira apresentação pública, intitulada Anel de Vidro, o início de um projeto que mudaria a vida de seus integrantes.
Com o crescimento da companhia nas redes sociais, o grupo ganhou bastante notoriedade em Imperatriz por suas coreografias autorais de músicas como: "Veja bem, meu bem", do Los Hermanos e “Chandelier”, de Sia. A partir daí passaram a ser chamados para eventos pessoais e comerciais. Isso fez com que o Pasárgada se especializasse em assessorias coreográficas, no entanto, nunca deixaram de amar e produzir os conteúdos voltados para a dança.
Vagalumes urbanos
Produzir um projeto autoral é sempre um desafio, imagine para um grupo em que os atores são também os bailarinos, coreógrafos, diretores, produtores, sonoplastas e roteiristas. Além disso tudo, existem os desgastes emocionais. “Criar um conceito do zero demanda tempo e energia durante meses, além das pesquisas, ensaios e reuniões”, diz Bárbara Nepomuceno, bailarina do grupo. Tudo isso acompanhado dos custos financeiros que eles precisavam arcar.
Com o intuito de unir música, poesia e dança dentro do mesmo espetáculo, os bailarinos começaram a levar em seus encontros poemas, livros e trilhas sonoras que marcaram suas vidas em algum momento para incluir no roteiro da apresentação. “A gente se preocupou em fazer algo que as pessoas fossem assistir e dissessem: ‘Aquilo é o Grupo de Danças Pasárgada’, aquilo são os bailarinos de Imperatriz”, afirma Thaymison Gomes.
Cada detalhe do espetáculo Vagalumes urbanos, de 2017, foi pensado pelos próprios integrantes. Eles se preocuparam em deixar sua marca e transmitir uma mensagem para o público naqueles três dias. O cenário, cenas, figurino e as 12 coreografias envolveram um processo longo de criação, preocupados com as ideias que queriam passar. “A escolha das músicas e das poesias foi feita a dedo, tentamos trazer a riqueza da cultura brasileira”, conta Victória Nepomuceno, outra integrante.
Os bailarinos queriam oferecer uma proposta diferente dos espetáculos apresentados na cidade, demarcando uma crítica social. Eles contam que a apresentação retratou a artificialidade da vida moderna, que esconde a personalidade real das pessoas, apagando suas luzes interiores, criando uma sociedade infeliz, materialista e alienada.
Como informa o material de divulgação, o espetáculo evidencia, também, traumas sociais como a solidão, o uso excessivo de tecnologias, a tristeza e a desilusão. Todos responsáveis por afastar os seres humanos de sua verdadeira essência. Em contrapartida, são apresentados os “seres genuínos”, representados de forma metafórica pelos vagalumes. Eles só habitam em ambientes naturais e por isso se distanciam das cidades e das luzes artificiais, não sendo afetados pelos traumas que a sociedade costuma causar.
As dúvidas de que o projeto agradaria a cidade eram muitas, mas o trabalho duro deu resultado. O público lotou o teatro e respondeu ao esforço feito pelo grupo com aplausos e elogios. “Pudemos ouvir o feedback das pessoas dizendo que ficaram reflexivas com o que a gente apresentou, que era exatamente o nosso objetivo: trazer uma reflexão sobre nossos atos, como tratamos os outros e o que poderia melhorar”, declara Victória. Confira um vídeo do espetáculo em:
Pasárgada nas redes
As redes sociais são um apoio essencial para o Pasárgada desde o início, pois é por meio delas que eles divulgam seus trabalhos, fotografias e vídeos. O grupo se preocupa em produzir um conteúdo de qualidade para o público, focando no lado mais poético, sua principal característica.
Bailarinas clicadas pelo fotógrafo Wescley Aquino.
Cada detalhe conta na hora de produzir as fotos que serão postadas nos feeds do Facebook e Instagram, as redes sociais mais utilizadas pela companhia. Todo o processo estético dos ensaios fotográficos que o grupo organiza são pensados em conjunto, desde a maquiagem, até a cor da roupa que o bailarino vai usar. “A gente tenta ao máximo fazer com que as pessoas se sintam em Pasárgada”, afirma o coordenador.
Os bailarinos apostam em ensaios fotográficos temáticos, acompanhando as festividades anuais, como o carnaval, Natal e festas juninas. O objetivo é mostrar as diversas formas de expressão que a dança manifesta na cultura social, sem nunca, é claro, esquecer da poesia.
No final de 2021, o grupo Pasárgada lançou uma experiência de espetáculo de dança audiovisual de pouco mais de 20 minutos, contemplado pela Lei Aldir Blanc, intitulado Tu és tua!, com a direção geral e concepção de Bruna Viveiros.
Duas bailarinas e um bailarino interpretam, por meio de coreografias e canções impactantes, como "Mulher do fim do mundo" (Alice Coutinho/Rômulo Froes), na voz de Elza Soares, as "relações de gênero e poder, com foco na participação das mulheres no âmbito social", como informa o material de divulgação. O vídeo pode ser conferido no YouTube:
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