Uma viagem por versos e canções
Cantora Lena Garcia começa a enveredar pelo mundo das composições
Silvana Costa
“Para quem quer seguir essa carreira aconselho, em primeiro lugar, amor e respeito pelo trabalho, depois muita dedicação”. O recado é da cantora, compositora e violonista imperatrizense, Lena Maria Ayres Garcia, a Lena Garcia, de 49 anos de idade e 25 de carreira. Representante da música brasileira na região Tocantina, sua trajetória artística teve início em 1997, e desde então não parou mais. Começou a cantar profissionalmente com 21 anos, no extinto Bar Caneleiros, em Imperatriz. Abriu shows de artistas reconhecidos nacionalmente como, Kid Abelha, Marina Lima, Zeca Baleiro, Chico César, Natiruts, Tetê Espíndola, Jorge Mautner, Nilson Chaves e Zé Geraldo.
Lena não tem um caderninho, ela usa a tecnologia: "Gravo no gravador de celular". (foto: Emanuelle Rebelo)
Com a pandemia da Covid-19, Lena Garcia despertou o seu lado de compositora. “Teve um porém de eu ter me apaixonado pela minha companheira agora, Karlla Gyz, então eu fiz a primeira música para ela: ‘Mora aqui’. Não gravei ainda, mas já concorri e ganhei melhor letra no Festival de Música de Imperatriz”, detalha, considerando a vitória um grande estímulo para prosseguir compondo.
Suas letras falam de amor e, para compor, Lena Garcia se inspira neste sentimento, expresso em todas as formas. A compositora afirma que, para ela, a música representa vida e, quando canta, sente uma força divina. “É o que me move, minha fonte de vida”, reforça. Lena cita como exemplo, trechos da própria canção pioneira, “Mora aqui”: “Mora aqui dentro de mim/ Bem no centro do meu mundo/ Pousa assim sem me avisar/ Traz o bem do teu sorriso/ Plantei flores no quintal/ Colhi sonhos na varanda/ Canto sol toda manhã/ E me deito com a lua.”
Lena Garcia já apresentou para o público outras cinco músicas em algumas apresentações ao vivo e ressalta que “outras estão por concluir, para melhorar”, quase sempre compostas apenas por ela. A esposa de Lena é professora de música formada pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e ambas fizeram juntas uma canção em homenagem à Aldeia do Leão, ainda inédita.
Sobre o processo de compor, Lena Garcia detalha: “Eu não tenho aquele velho caderninho. Com a tecnologia, as músicas vêm à cabeça e eu gravo no gravador de celular e depois eu escrevo na pasta de anotações do celular mesmo. Às vezes a inspiração vem, estou em outro quarto, cozinhando, ou estou na rua, eu tiro o celular e gravo”.
Raízes e lutas
Lena se interessou pelas canções no seio familiar. “Meu pai cantava e tocava clarinete, meu irmão toca violão e canta. Eles sempre tocavam e cantavam nas festas de nossa casa”, lembra. O pai, Rubem Garcia, foi sua inspiração musical, além de outros cantores que ela passou a ouvir por influência dele e do irmão. A música foi uma paixão para a família da cantora, que sempre a apoiou. Lena ouve desde criança MPB e jazz, especialmente Elis Regina e Billie Holiday, que, para ela, são as maiores inspirações.
Ao tratar dos prós e os contras da carreira artística, a cantora comenta que o lado positivo é perceber que ainda existem pessoas que se interessam em fazer e fomentar a arte na cidade. Já o negativo é a banalização e o comércio da música de massa que assola o país. Lena também considera difícil viver só do seu ofício de cantora e, mais recentemente, de compositora. “Em Imperatriz, como em todo o país, só dá para viver de música se houver outros projetos além dos bares. Leis de apoio à cultura ou projetos privados”, explica.
Para a cantora, há pouco espaço para a música brasileira na cidade. “Infelizmente não tenho mais acesso ao cenário musical de Imperatriz. Tenho viajado bastante, porque a cidade reduziu muito o espaço para o meu estilo musical”. A compositora sente que é reconhecida e respeitada, mas explica que a grande dificuldade é a falta de apoio. “Essa é uma razão pela qual nós, músicos, que vivemos de nossa música, necessitamos sair da cidade constantemente”, relata. Mesmo com todas as dificuldades, a intérprete sente-se feliz com o trabalho que realiza e com a capacidade de alegrar as pessoas com suas interpretações e criações.
A pandemia da Covid-19 fez a cantora se reinventar. Como ela tem no ganho com essa atividade artística a base para se manter financeiramente, a preocupação passou a fazer parte do seu cotidiano no auge do isolamento social, nos anos de 2020 e 2021. “Por seis meses sobrevivi de lives, o que foi muito complicado, porque nem de longe supria minhas necessidades financeiras”, relembra.
A cantora afirma que não tem música de sua autoria conhecida em Imperatriz, pois só começou mostrar suas composições ao vivo durante a pandemia. Mas, destaca que existe uma canção do seu amigo Djalma Lúcio Ayres em que ela também canta, chamada “Nenhuma Estrela”, que é muito conhecida na cidade: “Vai, segue essa noite/ Nenhuma estrela/ Só você e eu/ Agora é com nós dois/ Não deixe o dia se assanhar/ Vem ver o mar de perto/ Anda comigo/ Não tá nem aí/ Mas faz aquele olhar/ Que não quer nada e quer demais.”
Prêmios
Lena Garcia venceu vários festivais de música em todo o Brasil, sempre levando adiante com orgulho o nome da cidade. Em Imperatriz fez participações em shows de artistas como Carlinhos Veloz, Erasmo Dibell, Chiquinho França, Jorge Mautner, Nilson Chaves, Zé Geraldo, entre outros, além de participar de dois festivais de música, o Faimp (Festival Aberto de Imperatriz), em 1995, e Faber (Festival Aberto Balneário Estância do Recreio), em 1997, sendo que neste foi eleita melhor intérprete. Lena revela que antes de cada apresentação nos festivais, ela fazia aquecimentos físicos e vocais e não tomava nada gelado ou alcoólico. Até hoje ela se prepara com horas de ensaio, que são sempre individuais e isolados.
Em São Luís, venceu o 1º Festival João do Vale, no bar e restaurante Zanzibar, com os prêmios de Melhor Música e Melhor Intérprete. Com as cantoras Dicy Rocha e Helyne Carvalho, conquistou também a terceira edição do mesmo festival. Em 1998, mudou-se para São Luís. Já em 2000, venceu o 1º Festival João do Vale (1º lugar e melhor intérprete), e ainda abriu os shows de Kid Abelha e Marina Lima. Em 2008, junto com o duo Flor de Cáctus, conquistou a terceira edição do festival João do Vale. No mesmo ano, abriu shows de Zeca Baleiro e Natiruts em Imperatriz. Em dezembro de 2012, conquistou o segundo lugar no Festival de Música de Pinheiro.
Ainda em 2015, a artista, em parceria com o cantador maranhense Clauber Martins (foto), participou de dois grandes festivais nacionais: o 16º Festival de MPB de Pereira em Barreto-SP, onde conquistaram o 4º lugar, e o Fenac (Festival Nacional da Canção), em Boa Esperança-MG. Este foi o momento mais desafiador da vida da artista, pois é o maior evento desse gênero do Brasil. Foram mais de 5 mil inscritos e a dupla ficou entre os dez finalistas, enfrentando 150 concorrentes.
Em 2016 a artista venceu, com Clauber Martins, o Festival de Música de Imperatriz, em 2017 a dupla novamente conquistou o Festival de Música de Nazaré-TO e, em 2018, os prêmios de 1° lugar e Aclamação Popular no Guru Festival em Gurupi-TO. “É sempre uma grande emoção receber um prêmio por toda dedicação e entrega. Chega a ser indescritível”, acredita Lena.
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