20k do Passinho desconstruiu preconceitos
Redes sociais auxiliaram a divulgação da arte do grupo, que encerrou suas atividades
Wanderson Souza
Grupo faz apresentação na concha acústica da Beira-Rio. (foto: divulgação)
Formado no primeiro trimestre de 2019, o grupo de dança 20K do Passinho viveu a sua ascensão naquele ano, apresentando coreografias do estilo musical brega funk, ritmo originado no Rio de Janeiro que ganhou força nas periferias de Recife. Até se desfazer, no início de 2022, o coletivo imperatrizense simbolizou diversidade e representatividade.
Foi criado como forma política para desconstruir conceitos, chegou a contar com mais de 30 integrantes, sendo todos adolescentes, e mais de 29 mil seguidores na rede social Instagram. Sua memória continua viva no @20kdopassinho_ e em vídeos no You Tube, como na performance de Bota-Bota, que já teve 179 mil visualizações.
A dançarina Kleisla Silva de Queiroz, fundadora do grupo, ganhou visibilidade na internet em março de 2019, publicando vídeos com produções caseiras na qual dançava o estilo e acumulou mais de 115 mil seguidores no Instagram. Representou um incentivo a um estilo musical culturalmente marginalizado.
O “passinho” foi um termo que começou a ser usado nas favelas do Rio de Janeiro, berço do funk carioca. Depois conquistou as periferias de Recife, onde se expandiu. A dança consiste em movimentos rápidos com as pernas, ombros e o quadril, além da aposta em coreografias que movimentam os braços e a região da virilha. Sarrada, puxada e tremidinha dos ombros são os nomes dos principais movimentos que socializam os jovens.
Diversidade
Entrevistada no final de 2020, Kleisla contou, na época, que o grupo era “muito diversificado” em relação à pluralidade de integrantes. Também afirmava ser “muito mente aberta” e que tinha ajudado outros integrantes a desconstruirem conceitos e opiniões em relação à suas próprias orientações sexuais. Composto por gays, bissexuais e héteros, o coletivo de dança continua simbolizando, na marca que deixou nas redes, a luta pela liberdade.
Diversidade e respeito marcaram a construção deste grupo de dança. (Foto: divulgação)
Para Gabriel Feitosa Silva, 20 anos, que integrou o 20K do Passinho desde o início de 2020, o grupo simulava uma família. Ele contou, na época, que, desde que havia entrado para a turma, era como se tivesse sido adotado por novos familiares. “Me sinto acolhido, e a forma que me tratam não tem explicação”, comentou.
Além disso, os membros e a dança auxiliavam colegas no combate a transtornos psicológicos. Silva dizia, na ocasião, que, além de apoiar e incentivar seus projetos em momentos angustiantes, para aliviar sua ansiedade os colegas do grupo costumavam chamá-lo para conversar, distrair e se esquecer dos problemas.
Na opinião de Kleisla, as redes sociais foram cruciais para a propagação dos vídeos. As pessoas que a acompanham não “são apenas números”, segundo a dançarina acrediva na época da entrevista. “Não é só uma foto postada no feed, nos stories e nem só um videozinho gravado no sol quente”, diferencia.
Com cortes de cabelos degradê na lateral e riscos nas sobrancelhas, o grupo expressa muito glamour. A cada evento que se apresentavam, os seguidores gritavam e pediam para tirar fotos, uma espécie de reconhecimento conquistado devido às plataformas digitais. As gravações para os fãs do 20K eram feitas nas ruas e até em gramados de campo de futebol e publicadas no Instagram @20Kdopassinho_.
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