“Viver da arte é um privilégio”
Cleiton Viana, da Trupe de Habilidades Circenses, conta como vive a arte de rua
Maria Gabriela
Em meados de 2008, diversas entidades e artistas de Imperatriz resolveram ocupar espaços públicos que estavam abandonados na cidade. A primeira Biblioteca Municipal do município, por exemplo, seria demolida para dar lugar a outro prédio, mas manifestantes ocuparam o lugar com arte. O movimento conhecido como OcupArte foi o despertar artístico de Cleiton Viana para o mundo circense.
Palhaço Graveto encanta e ilumina juntamente ao seu diabolô. (foto: Sara Osh)
Coincidência, acaso do destino ou que quer que seja levaram Cleiton a topar com o grupo. Logo que passou a participar, se enturmou, conheceu as pessoas, sentiu identificação com o movimento, e o que era para ser só mais um dia qualquer, se tornou a premissa para o início de uma nova trajetória.
As oficinas oferecidas pelo OcupArte o ajudaram a desenvolver talentos. Artistas como a atriz e poeta Lilia Diniz, Andrei Cabezas, que deu aulas de pirofagia, e Alexandre Almeida, cineasta da Casa das Artes, foram peças importantes para o afloramento de suas habilidades, tendo a oportunidade de apresentá-las nos semáforos de Imperatriz.
As manifestações para defender os prédios da cidade estimularam a criação de outro movimento em 2010, a Trupe de Habilidades Circenses. Conhecida também como THC, foi consequência do movimento OcupArte e contou com Cleiton como um dos fundadores e integrante.
Referência na Região Tocantina, o grupo se profissionalizou em técnicas da arte circense. É formado por Cleiton, que é o palhaço Graveto, preparado para ser diabolista, acrobata, cuspir fogo, usar perna de pau, fazer rola-rola, jogar bolinha, aro, swing e claves, junto aos artistas Guilherme Boto, Leonardo Pires, Luciano Corvex e Sara Osh. O aprimoramento das expressões veio com o tempo e hoje, aos 36 anos, Cleiton Viana leva alegria às ruas e às festas.
Viajar com arte
A vontade de mergulhar no mundo artístico surgiu desde criança, o pequeno Cleiton sentia o desejo de viajar por aí. Começou a apreciar e fazer artesanato, mais tarde se identificou com malabares e encontrou lar e oportunidade na arte circense quando conheceu o OcupArte. Agora, além de viajar, trabalha com aquilo que estimula o seu coração.
Todo começo no universo da arte é incerto. No caso de Cleiton, em um primeiro momento, a família não acreditava que a arte poderia ser um meio de trabalho. Estar pelas ruas e viajar gerava preocupação, mas o tempo passou e com ele trouxe aceitação por parte de seus pais.
Os breves segundos de distração no semáforo são suficientes para o palhaço Graveto espalhar sua arte. (foto: reprodução Instagram)
Junto à THC, Cleiton já foi da capital São Luís até ao Festival de Circo de Goiânia para divulgar oficinas e trabalhos relacionados ao circo. No auge da pandemia da Covid-19, a frequência de trabalhos diminuiu, a adaptação à tecnologia foi necessária e, com isso, a THC foi responsável pelo primeiro I Festival Imperatrizense de Circo. O festival precisou ser on-line por causa da necessidade de isolamento social e pode ser acessado por telespectadores do mundo inteiro. Quem quiser conferir como foi esse festival pode assistir os vídeos gravados no YouTube do grupo:
Cleiton comenta que o artista de rua ainda é marginalizado: “As pessoas dizem que é melhor estar ali do que estar roubando”. Só que a atividade artística que foge do convencional não é inferior. Esse ponto fora da curva é trabalho. O malabarista no semáforo também é sinônimo de produzir arte. É levar entretenimento e arrancar um sorriso, mesmo que seja apenas nos breves segundos de pausa do sinal vermelho no trânsito.
Humanidade e sensibilidade são necessárias para o palhaço desempenhar seu trabalho. (foto: Sara Osh)
Grande parte das atividades da Trupe são voluntárias. O palhaço Graveto reforça que é satisfatório ver o sorriso das crianças e dos menos favorecidos, público-alvo do trabalho deles. “Para eles, é difícil encontrar algum espaço com arte, cultura e alegria. Estão acostumadas com violência. Então, quando chegamos, é um impacto. A maioria nunca teve contato com circo. Não há também incentivo por parte dos pais. Nosso trabalho é levar alegria”.
Poder ocasionar um fio de perspectiva e acender uma faísca no coração daqueles que vivem às margens da escuridão desperta o melhor de Cleiton. O sonho de uma criança que queria viajar foi alcançado e, junto a ele, veio uma enxurrada de coisas boas que Cleiton resume à uma só palavra: gratificante.
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